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Entrevista: João Barone
Ele é conhecido e admirado por sua atividade como músico. O que pouca gente sabe é que João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, é um aficionado por veículos militares antigos, possuindo, entre outras preciosidades, um Willys MB 1944, restaurado como os originais da II Guerra Mundial. Em 2004, a bordo deste Jeep, Barone participou da comemoração dos 60 anos do Dia D, nas praias da Normandia, aventura que resultou no DVD “Um Brasileiro no Dia D”. Atualmente presidindo o Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro, o músico nos concedeu a entrevista a seguir:
Planeta Off-Road: Quando e como surgiu o seu interesse pelos veículos militares antigos?
João Barone: Em vez de comprar uma moto, optei por um outro veículo de lazer. Procurei um jipe militar antigo, para restaurar exatamente como um original da época da Segunda Guerra. Em 1999, terminei a restauração de um Willys MB 1944. Levou pouco mais de um ano de trabalho, sendo que eu supervisionei os detalhes, pesquisei muito na internet, fiz muitos amigos no Brasil e no exterior e, na época, consegui comprar muitas peças nos Estados Unidos e na Europa. Mas quem botou a mão na graxa mesmo foi o Zezinho, aqui do Rio, um dos maiores especialistas em jipes militares do Brasil. Sabe tudo!
POR: Conte-nos um pouco sobre esta restauração.
JB: Para ficar bom, dá trabalho, tem que ter paciência. Muitos amigos meus são capazes de feitos heróicos, como garimpar peças em ferros-velhos por aí afora. Isto é demais, faz parte da brincadeira. Por exemplo: catar os parafusos marcados com o “F”, usados nos jipes Ford GPW etc.
POR: Como se deu a sua ligação com o CVMARJ (Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro)?
JB: A malucada se cruzava nas ruas do Rio, até que um dia resolvemos agregar todos num clube. Tivemos a idéia de fundar um clube no Rio, que não existia. Eu já era sócio do Imperial Jeep Club, em Petrópolis, possivelmente o primeiro clube do gênero criado no Brasil, voltado para os jipes e veículos militares antigos. O CVMARJ foi o sonho realizado por mim e pelo Roberto Maués – o Zezinho -, e todos os entusiastas no assunto, que se cruzavam nas ruas e encontros de veículos antigos na cidade. Desde 2001, agregamos muita gente não só do Rio, mas de outros estados, especialmente pela popularidade do nosso site, com o “beabá” sobre veículos militares antigos. Apareceram mais clubes pelo Brasil e hoje temos uma associação nacional, a ABPVM (Associação Brasileira de Preservadores de Veículos Militares).
POR: Fale rapidamente sobre as atividades do Clube.
JB: Nossa meta é divulgar a originalidade dos veículos militares de valor histórico, com ações em conjunto com a Diretoria de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro. Participamos de encontros, desfiles, exposições e eventos diversos. Nos últimos anos, o setor de veículos militares antigos foi o que mais ganhou espaço nas exposições de “antigomobilismo” no país, graças ao apoio da Federação Brasileira de Veículos Antigos, que reconheceu nosso trabalho. Nós estamos mais para “antigomobilistas” que para trilheiros. Alguns dos nossos sócios não saem com seus jipes em dia de chuva, mesmo estando preparados com snorkel para dois metros de água.
POR: Antes de adquirir o seu Jeep 1944, você já havia tido algum contato com veículos fora-de-estrada?
JB: Quem mora no Rio de Janeiro deveria ter um veículo 4×4; se já não bastassem os buracos de bala, temos os buracos nas ruas, avenidas e estradas – cada dia um novo -, além das enchentes. Pra que sair da cidade e procurar trilhas se, no dia-a-dia, podemos fazer off-road on the road?
Eu sempre dei preferência para veículos mais robustos, a diesel, para poder levar a família com segurança. E os motores estão cada vez mais politicamente corretos no que diz respeito à emissão de poluentes, à potência, estão menos barulhentos etc.
POR: Quais outros veículos militares antigos você possui?
JB: Tenho um raríssimo Ford GP, 1941, único no Brasil. Foi um modelo protótipo para tentar ganhar a concorrência dos veículos encomendados pelo exército americano, que virou o jipe como conhecemos hoje. Tinha um motor de 40 hp, igual aos dos tratorzinhos agrícolas da Ford. Depois, tenho um outro raro blindado 4×4 White, modelo Scout Car, que pesa 5 toneladas. Foi o primeiro blindado usado pelo exército americano nos anos 40. Ficou obsoleto em 1943! O Brasil estava usando estes dinossauros até o começo dos anos 80. Também estou restaurando um caminhão Opel Blitz e um Fusca, que era chamado de KDF nos anos 40, caracterizados como viaturas alemãs da Segunda Guerra.
POR: Sobre o DVD “Um Brasileiro no Dia D”: como surgiu a idéia? Fale um pouco da sensação de percorrer todos aqueles lugares no seu Jeep, sob toda a emoção e a importância histórica que aquelas circunstâncias proporcionavam.
JB: Foi um sonho que encontrou eco e entusiasmo em muitos ao meu redor, até o dia em que finalmente ficou pronto. Não foi fácil. Eu ia para a Normandia ver os festejos dos 60 anos do Dia D, aí pensei em levar o jipe. Quando consegui, pensei em dar um foco mais relevante para a viagem, procurei saber se havia algum brasileiro que houvesse participado do Dia D. Achei o Pierre Closterman e consegui levar uma equipe de filmagem para registrar tudo. Quem puder assistir ao documentário, vai entender tudo melhor. Rodar nas praias da Normandia foi uma emoção indescritível; em muitos momentos eu me beliscava pra ver se não era sonho…
POR: Supondo ser a música sua atividade principal pergunto: qual “espaço” os veículos militares antigos ocupam hoje na sua vida?
JB: Bem; nas horas vagas, eu toco bateria! Mas, sem dúvida, esta paixão não é apenas “excentricidade de artista”, como muitos podem pensar. É alguma coisa muito especial, um fogo que nunca apaga. Ainda mais com tantos amigos em comum, dá um sentido de coletividade muito legal poder falar sobre o assunto, dividir experiências, ajudar. É muito legal.
Por: Humberto Mainenti | Fotos: arquivo pessoal