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Expedição Gaia Amazônia
Roteiro certo de aventura e superação, a Transamazônica foi palco para a Expedição Gaia Amazônia, com um comboio de nove 4×4 e 2.200 quilômetros de desafios
O temporal que desabou durante toda noite finalmente cessou e a manhã estava com uma névoa que cobria parte da floresta. Acordamos assim que o dia amanheceu para mais uma etapa no deslocamento pela BR-163 que, este ano, estava destruída pela intensidade das chuvas.
No dia anterior o trajeto já não tinha sido fácil. Saímos de Alter do Chão e nos deslocamos por 186 quilômetros, sendo 90 de asfalto e 40 de terra em estado razoável. O restante estava repleto de atoleiros, a perder de vista. Isto seria apenas uma prévia do que nos esperava no dia seguinte…
Como não conseguimos alcançar o destino, graças à precariedade do trecho inicial da lendária Transamazônica, fomos obrigados a pernoitar em grande estilo sertanejo. Montamos nosso acampamento improvisado em uma comunidade na beira da estrada, embaixo de um galpão de madeira que servia para festas religiosas. Lá cozinhamos, ajeitamos nossas redes e barracas e tentamos dormir ao som do temporal que, como dito, não deu trégua.
Pela manhã, fomos gentilmente acordados pelos caminhões que dividiram acampamento conosco no pequeno vilarejo. Caminhoneiros esquentando os motores significa que a partida deles está próxima e que a nossa precisa estar mais próxima ainda! A nossa adrenalina já estava a mil pois, na Amazônia, estar à frente de caminhões nos atoleiros representa o ganho de horas nas negociações e agilidade no deslocamento. A gente sempre tentava (com êxito!) passar na frente dos caminhões, mas existe uma “fila” a ser respeitada para transpor alguns atoleiros.
Saindo da comunidade encontramos, já nos primeiros cinco quilômetros, um enorme desvio com caminhões já enroscados. Felizmente passamos fácil pelos obstáculos, sem saber que o bicho ia pegar mesmo a alguns quilômetros dali. As notícias que tínhamos eram que uma filinha básica de 60 caminhões estava no sentido contrário aguardando para atravessar o tal atoleiro. Haja negociação…
Para quem nunca foi à Amazônia é difícil imaginar como uma estrada pode mudar tanto em tão pouco tempo. Em questão de horas, por conta das chuvas, o que era ruim fica pior. O que era pior fica pior ainda, intransponível. Ou, melhor dizendo, quase intransponível.
Esse local à beira de um rio tinha, no mínimo, três quilômetros ininterruptos de lama, muita, muita lama, uma verdadeira visão do inferno que, em vez de fogo, tem lama por todos os lados! Mesmo assim, nosso grupo de nove valentes veículos foi vencendo cada metro do atoleiro até sermos, ao final, vencidos por uma subida gigantesca com um grande facão (ou camaleão como é chamado por lá). Esse trecho estava logo depois de uma ponte que, por sorte, estava em estado razoável.
Aliás, se o rio sobre o qual passa esta ponte subisse um pouco mais, levaria a ponte embora e chegaríamos, involuntariamente, ao final da viagem. Ficaríamos ilhados na parte norte da estrada sem acesso à Transamazônica. Esta previsão pessimista, mas realista, estava nos planos e as incertezas fazem parte de uma viagem como esta.
Trabalhamos por horas nesse local tentando nos deslocar por míseros 100 metros. Nossas energias estavam se esgotando devido ao trabalho duro e ao calor de 40º típico da região. Por fim, fomos salvos por um trator 4×4 conhecido na Amazônia como “Jirico”. Fizemos trenzinhos com dois ou três jipes e o trator nos levava fora desse atoleiro de dimensões dantescas. Conseguimos, assim, vencer mais esse local.
A partir desse ponto seguimos por mais alguns trechos razoavelmente tranqüilos até chegarmos ao último atoleiro antes de Rurópolis, onde o exército brasileiro “melhorava” a estrada com dois tratores de esteira e mais um Jirico. Ficamos cerca de três horas ou mais esperando a liberação da pista. No comecinho da noite concluímos a travessia, mais uma vez com a ajuda do trator-salvador, pois os jipes, por mais equipados que estavam, não tinham condição de atravessar aquela subida enorme com terra solta e remexida. Seguimos sem problemas até a pequena cidade de Rurópolis, no entroncamento da BR-163 norte com a Transamazônica, onde pudemos ter uma noite tranqüila de descanso.
Esse relato serve como pano de fundo para a aventura que foi a 8ª Expedição Gaia Amazônia que teve início na cidade de Rio Verde, no Mato Grosso do Sul e cruzou três estados (MS, MT, RO) até atingir Porto Velho, onde o grupo inteiro se reuniu para dar a partida. Estávamos em nove veículos (duas L-200 Savana, uma L-200 GLS, uma L-200R, dois Toyota Bandeirante, dois jipes Troller e um Toyota Bandeirante Cabine Dupla) e um total de 15 pessoas para percorrer os 2200 quilômetros da rodovia Transamazônica (BR-230) durante o final do inverno amazônico, em um ano de muitas chuvas e cidades alagadas.
Partimos de Porto Velho até Humaitá, porta de entrada da rodovia. Adiante seguimos sentido leste pela Transamazônica e já pudemos sentir que os estragos eram enormes. Os atoleiros eram vencidos a cada quilômetro e as pontes precárias vencidas uma a uma. Passamos pelos municípios de Apuí e Jacareacanga até atingir a cidade de Itaituba, na beira do Rio Tapajós. No trecho entre Humaitá e Apuí tivemos a ajuda de um amigo morador da região, o Marquinhos, que teve um papel fundamental como conhecedor da região, dos atoleiros e das pessoas locais que cruzavam com a gente na estrada.
A partir de Itaituba uma parte do grupo seguiu na balsa com os carros e outra seguiu nos barcos de passageiro. Foram quase 300 quilômetros percorridos no Rio Tapajós até a cidade de Santarém, já no norte do estado do Pará, às margens do Rio Amazonas, exatamente onde o Tapajós deságua no Amazonas. De Santarém o grupo seguiu para Alter do Chão onde pôde passar alguns dias descansando e curtindo esse lugar especial de indescritível beleza às margens do Tapajós.
Em seguida, a expedição começava a retornar, o que não significa final de viagem, e sim a continuação de muitas aventuras pela Transamazônica.
A Transamazônica esse ano estava com um gostinho bastante especial devido ao volume das chuvas. Além de terem chegado atrasadas esse ano, as águas despencaram com uma força incrível, deixando dezenas de cidades em estado de calamidade pública e vários municípios isolados.
Deixamos a cidade de Rurópolis seguindo sentido leste passando pelas cidades de Uruará, Placas e Medicilandia. As cidades na beira da rodovia parecem cenários de filmes de faroeste, com baixíssima densidade demográfica. Apesar disso, até que ofereciam uma estrutura adequada para passar a noite e fazer uma refeição decente.
Em todos esses deslocamentos tivemos alguns atoleiros e trechos cascalhados. Depois de Medicilândia, em direção a Altamira, enfrentamos atoleiros com caminhões bloqueando as estradas. Coisas da Amazônia! Os jipes e seus pilotos encararam atoleiros respeitados com muita bravura e competência, conseguindo alcançar o município de Altamira em tempo para fazer uma manutenção nos carros. Depois de tanto “perereco”, como costumamos falar, estavam todos precisando de alguns ajustes para que a viagem pudesse ser concluída com segurança. De todo modo, o nosso mecânico de plantão, o Chimbica, que nos acompanhou toda a viagem estava de olho nos problemas que os carros apresentavam durante o percurso.
Após a diária em Altamira aproveitamos para descansar a beira do Rio Xingu, cujo nível mostrava que a chuvarada esse ano não estava sendo fácil. Fomos até a balsa do Rio Xingu em uma estrada muito boa, que só serviu para “animar” o pessoal, passando uma falsa imagem do que viria mais adiante. Logo depois os atoleiros voltaram com força total e tivemos muita dificuldade para percorrer um trecho de apenas 30 quilômetros, conhecido como “Goianinho”, onde máquinas trabalhavam para ajudar os caminhões a superar os obstáculos.
Chegamos a Novo Repartimento para nosso último pernoite na rodovia Transamazônica. Rumamos, em seguida, em direção a Marabá e as condições da estrada, apesar do asfalto, não estavam melhores. Levamos seis longas horas para percorrer 150 quilômetros. Apesar do cansaço, houve muita comemoração neste dia após termos todos cumprido o percurso da Rodovia Transamazônica, graças à união, companheirismo, cumplicidade e otimismo que foram as chaves do sucesso de uma empreitada como essa. A viagem ficou e ficará marcada na memória de todos que vivenciaram essa aventura para sempre.
por: Marcelo Fuzinato
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