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outubro 26, 2006

Andando nos Andes

Sonho antigo de amigos de Juiz de Fora/MG, o projeto Andando nos Andes saiu do papel e levou os aventureiros para 11400 km de aventura, diversão, amizades e belíssimas paisagens

Há vários anos sonhávamos em realizar uma viagem longa. Em junho de 2005 resolvemos concretizar este sonho. Começamos a realizar várias reuniões que literalmente só acabavam em pizza. Moral da história: nada se resolvia! Com o tempo foram aparecendo os integrantes para o grupo e, por fim, formamos nosso grupo com sete pessoas e duas Land Rover, uma 110 (2004) e uma 130 (1997). O tempo foi passando, o roteiro e data da partida definidos e quando percebemos faltava menos de um mês!

Antes de partir

Quinta-feira, 06 de julho, 17h. Compras feitas, documentos acertados, carros revisados… Opa! Aparece um barulho no diferencial traseiro da 130. Levamos o carro ao nosso guru-mecânico Denir e, após muita discussão, resolvemos trocá-lo. 22h e lá estávamos indo adesivar os carros para só então partirmos.

Antes de sair, tentamos convencer nosso teimoso amigo ‘Peludo’ a não viajar com os pneus meia-vida. Ele queria comprar novos fora do país, mas o lugar onde iríamos encontrar pneus baratos era muito longe. Não conseguimos e fomos com os velhos mesmo.

Acabamos saindo à meia-noite de Juiz de Fora (MG), com destino a Corumbá (MS). O frio era forte, mas aceleramos pois nosso destino estava longe. Antes de chegarmos a Campo Grande, no início da noite e mortos de cansaço, o placar já marcava dois pneus da 130 furados.

Até aqui as estradas eram muito boas e o enorme número de retas chamava nossa atenção. Por incrível que pareça onde parávamos chegava alguém tentando nos ajudar. Em Corumbá, até um moto-boy ficou nosso amigo e, quando percebemos, o Cabeção já estava cheio de pizzas.

Na Bolívia

Depois de muito tempo esperando a boa vontade dos bolivianos em Porto Suarez, um brasileiro que mora em Santa Cruz nos deu várias informações a respeito da estrada da morte. Resolvemos o roteiro e quando nos despedíamos, vimos que estávamos esquecendo de registrar a entrada dos carros. Fomos nos informar e descobrimos que a aduana não abre no domingo. Como não havia como seguir viagem resolvemos voltar para Corumbá e fazer um passeio de barco pelo Pantanal.

No dia seguinte, estávamos bem cedo na fronteira. Fomos muito bem atendidos e começamos a escutar uma frase que não se calou mais durante toda a viagem: “Qué pasó com Brasil em el mundial?”

Resolvido o problema da papelada saímos com destino a Santa Cruz de La Sierra, através da tão temida “Estrada da Morte”. Pegamos um asfalto muito bom, abastecemos e seguimos nossa viagem, íamos a uns 110km/h, quando de repente a estrada acaba! Um monte de terra no meio do asfalto e uma estradinha de chão para cada lado. Pegamos a via da esquerda, após nos informarmos. Uns 10 km depois nos deparamos com uma corda esticada no meio da pista e uma cabana de sapê. A barraquinha, estilo filme do Vietnã, era um pedágio. Pagamos e um guarda que estava rodeando começa a pedir os documentos dos carros. Mostramos o DUT, CNH e o documento da aduana. Tudo certo? Não! Ele nos diz que precisávamos de uma autorización para conducir e disse que teríamos que voltar a Puerto Suarez para fazer o documento. Lá fomos nós, achamos fácil a polícia de trânsito e fizemos o documento, 50,00 ps para cada carro e o guarda que nos atendeu recebeu o valor cobrado e o colocou no bolso bem na nossa frente, sem a menor cerimônia.

Várias pessoas haviam nos avisado que se ficássemos parados na “Estrada da Morte” iríamos ser assaltados e adivinha o que aconteceu?  A Defender 130 caiu em um buraco e amassou duas rodas e esvaziou os dois pneus. Trocamos os pneus o mais rápido possível, pois o risco de assalto era muito grande.

Andes

No Peru

No caminho para Cochabamba o clima mudou muito. O frio já dava seus primeiros sinais. Faltando alguns quilômetros para chegarmos a Cochabamba começamos a sentir os primeiros sintomas da altitude, pois estávamos a 3.700m. Começamos a ver as primeiras montanhas congeladas e tivemos a primeira avaria nos carros, a bomba de vácuo da 130 parou de funcionar. Achamos a peça, só que era muito caro e fomos com o freio duro mesmo.

Quando estávamos abastecendo para sair com destino a Desaguadero, um caminhoneiro nos informou que a estrada estava bloqueada, por causa de um protesto de pescadores revoltados com a poluição dos rios. Ele fez um mapa com um caminho alternativo. Seguimos o mapa e ficamos perdidos! Resolvemos voltar um pouco e encontramos duas vans que também estavam fugindo do protesto. Estávamos no meio do deserto fazendo uma verdadeira trilha com riachos, rios secos, pedras e erosões, e entre nós as vans. Quando achávamos que já estávamos livres encontramos alguns pescadores e camponeses também realizando o protesto no meio do  deserto. Tentamos negociar nossa passagem, a qual foi feita com 20,00 pesos, e dois litros de achocolatado. Ao chegarmos ao asfalto fizemos a maior festa, buzinamos para as vans e aceleramos! Só que para nossa surpresa havia um outro protesto, maior e mais enfurecido que o anterior. Novamente tentamos negociar só que sem sucesso. Foi quando nossos “amigos” das vans chegaram e mais uma vez nos mostraram uma trilha para chegarmos à Desaguadero. Obtivemos êxito em nossa empreitada e conseguimos chegar à fronteira, onde até os guardas ficaram espantados por termos conseguido passar pelo protesto.

Problemas em Cusco

Depois de um café improvisado no capô das Land, seguimos nossa viagem e encontramos o imenso Lago Titicaca, um verdadeiro mar. Ainda no caminho para Cusco já começávamos a ver as construções típicas, casas e muros feitos de pedras empilhadas!

Chegamos a Cusco e ficamos deslumbrados pela estrutura da cidade. Muitos turistas, tudo “bem organizado” e muitas igrejas. Achamos um hotel que não tinha garagem. Como vínhamos de cidades pobres e feias, ficamos iludidos pela beleza de Cusco. Nosso maior erro! Na manha seguinte descobrimos que os carros haviam sido arrombados. Levaram nossos CD´s, GPS, duas máquinas fotográficas, conversor de energia e a chave reserva de um dos carros.

Passei mal devido à altitude. Sofri de muita dor de cabeça, febre e falta de apetite. Fiquei dois dias de molho e depois de tomar todo tipo de remédio e chás, oferecidos pela dona do hotel, resolvemos chamar um médico que mais uma vez receitou um monte de remédios, que desta vez fizeram efeito.

Guardamos os carros em um estacionamento e fomos fazer o passeio a Machu Picchu. Pegamos o micro-ônibus de turismo e depois o trem. O visual é fantástico! Chegamos a Águas Calientes onde os guias nos deram as primeiras informações sobre o local e só então realmente subimos para as ruínas. Chegando lá todos ficamos em silêncio, só contemplando o local, e à medida que o guia ia nos contando a história, ficávamos assustados com a tamanha inteligência dos Incas.

Andes


Loja Planeta Off-Road

Desbravando as estradas chilenas

Seguimos nossa viagem. Tínhamos dúvida de qual caminho tomar e decidimos pelo mais curto no mapa. Sofremos com o frio! Os carros chegaram a congelar tudo, água, janelas e, como a temperatura do radiador estava muito baixa, resolvemos colocar mais uma vez a lona na frente do radiador para sanar o problema. Com todos os problemas conseguimos chegar ao nosso destino, a fronteira Peru / Chile. Nossas informações eram que a fronteira funcionava 24h, mas para nossa surpresa isso não era verdade. Chegamos à fronteira às 3h da manhã e tivemos que dormir nos carros.

No dia seguinte acordamos com o barulho de outros carros e quando vimos a fronteira já estava lotada e tivemos até que enfrentar filas!  A fronteira do Chile é bem diferente de todas que já havíamos passado até agora, tudo muito bem organizado e com bom atendimento.

Andes

Começamos então a desbravar as estradas chilenas. Tudo em volta era areia e pedras, um deserto “sem fim”. Seguimos até a cidade de Inquiqui, onde as informações que tínhamos eram de uma Zona Franca onde tudo era muito barato, pois as mercadorias vindas da China e Japão ali eram descarregadas para serem distribuídas pela América do Sul. Chegamos todos animados, mas a história não era muito bem assim, pois o que era barato era somente no atacado. Compramos algumas coisas e estávamos nos preparando para ir embora, fomos abastecer e no posto conhecemos Hector, um chileno que tem relações comerciais com o Brasil e fala muito bem o português. Quando percebeu já havia nos levado para sua empresa, uma garagem de caminhões e estávamos fazendo um jantar para ele, seus funcionários e família! Héctor. Ficamos em sua garagem por dois dias. Foi uma grande amizade que fizemos, mas ainda faltava muita estrada para completar nosso roteiro.

Perdidos no salar

Saímos de Iquique com destino à Uyuni. Pelo mapa, a melhor estrada dava muita volta e resolvemos pegar uma rota alternativa. Mais um erro! Pegamos uma estrada muito boa, mas depois de uns 300 km chegamos em uma mina de Cobre às margens do Salar de Coipasa. Lá nos informaram que não poderíamos chegar à Bolívia pelo salar e que deveríamos dar a volta até Calama. Na dúvida, resolvemos tentar assim mesmo. Ficamos perdidos nos salar por umas duas horas. Um fato pitoresco, os animais que ali morrem não se Decompõem. Devido à umidade zero, à ausência de insetos, bactérias e à presença do sal eles mumificam.

Resolvemos voltar à rodovia principal e no caminho vimos uma outra estrada que também saía na Bolívia. Paramos uma caminhonete na estrada que nos explicou o caminho, dizendo que encontraríamos um vilarejo a 20 km. Aceleramos e ficamos perdidos! Depois de muito andar, achamos a cidade. Não havia uma alma viva. Fizemos uma reunião em plena madrugada, com um céu sem explicação de tão estrelado. Pegamos mapas, GPS e consultamos o Google Earth – nosso grande parceiro na viagem. Traçamos uma nova rota, e no caminho vimos uma luz. O nativo que ali morava nos explicou o caminho. Quando ele terminou sua explicação, um geólogo que estava alojado nos informou que essa estrada era perigosa, pois era rota de tráfico e roubo de automóveis e nos aconselhou a não seguir a viagem durante a noite. Por muita sorte nossa ali era um “hotel”. Durante a madrugada o frio foi de 18º negativos!

O hotel é muito interessante, muito simples, mas legal. Dentro dos quartos tem uma banheira com água quente natural, água vulcânica. No meio do nada tem várias piscinas naturais com água muito quente e muito cheiro de enxofre, estamos no meio de um vulcão!

Nos carros, tudo congelado, radiador, refrigerantes, água… Colocamos as Defender no sol para melhorar um pouco a situação e enfim conseguimos funcionar os motores. Pegamos a estrada e a cada km ela piorava mais e mais, rodamos o dia inteiro e para variar a noite caiu e ainda estávamos no meio do deserto, rodamos até a próxima cidade. Chegamos a San Martin, procuramos um hotel, mas não existia, conseguimos alugar um cômodo no cartório da cidade, nos amontoamos e dormimos.

Andes

Atacama

Acordamos mal, devido à péssima noite e pegamos a estrada com destino à cidade de Salinas, próximo ao Salar de Uyuni. Quando lá chegamos encontramos um jipe com turistas, pedimos informações, ele estava a caminho das ruínas que ali existiam. Seguimos o jipe até as ruínas, onde arrumamos um guia que nos contou a história do local. Nosso destino agora era Uyuni, seguimos o jipe até a entrada do salar. O salar é magnífico! Seguimos até a Isla Pescado, uma montanha única no meio do salar, com restaurantes e muitos turistas. Olhando da ilha parece que estamos no meio do mar. Enfim, depois de dois dias no deserto, sem banho e dormindo mal, chegamos à cidade de  Uyuni.

Saímos de Uyuni cedo em direção a Calama (Chile), onde iríamos visitar a maior mina de cobre do mundo, Chuchicamata. Nos orientamos com o dono do hotel de Uyuni e pegamos estrada, fomos por dentro do salar até Colchak. Depois de 500 km de trilhas seguimos a estrada certa. Chegamos à fronteira da Bolívia com o Chile na hora de fechar, quase não conseguimos atravessar. Para variar, mais um pneu da 130 furou.

Chegando na mina, fomos direto para a usina, mas na portaria nos informaram que só poderíamos entrar com o ônibus que leva os turistas para o tour, que sai da praça central de Chuchicamata. Para nossa surpresa, fomos informados que só teria vaga no ônibus na semana seguinte. Insistimos muito com o guia e arrumamos lugar.

A mina é impressionante! São 4,5 km comprimento por 2,7 km de largura e 900 metros de profundidade. Os equipamentos (caminhões, escavadeiras, etc) deixaram todos boquiabertos de tão grandes. Depois da visita, seguimos para São Pedro de Atacama, onde fomos ao Vale da Lua. Depois de subirmos uma imensa duna, vimos o por-do-sol, que é um espetáculo a parte. Fomos dormir cedo pois teríamos que acordar cedo para irmos aos Geisel El Tatio.

Acordamos às 5h da manhã e seguimos para os geisels, que pareciam uma imensa sauna. Tratamos logo de arrumar um geisel para cozinhar ovos e esquentar o leite para o nosso café da manhã. Viramos a atração do local, pois todos que passavam ficavam olhando o que estávamos fazendo. Seguimos e mais a frente encontramos umas termas naturais com águas a uma temperatura de 33 graus enquanto que, do lado de fora, temperatura estava em torno de 5 graus. Ficamos o resto do dia dentro d´água!

Voltando para casa

Como já havíamos visto muitos desertos e estávamos cansados resolvemos ir embora de São Pedro do Atacama. As informações que tínhamos da Argentina nos fizeram tomar a decisão de viajar 2.000 km direto, só parando para abastecer e comer. Viajamos durante a noite e chegamos ao Paraguai na hora do almoço. No dia seguinte nos esbaldamos de tanto fazer compras e seguimos para nossa casa, pois a saudade já era muita!

Em nossa viagem aprendemos muito, principalmente a dar valor ao nosso imenso Brasil, onde o povo, a paisagem, enfim, tudo é muito belo. O que nos resta agora é contar casos e mais casos e curtir a idéia de uma outra expedição em 2008, desta vez para o sul da América do Sul.

Andes

 

 

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