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Ksados 4x4
dezembro 9, 2008

Entre San Juan e Mendoza

Grupo Ksados 4×4 reúne 12 jipes para uma aventura de mais de cinco mil quilômetros pela Argentina 

Na Argentina há um dito popular quando alguém está indeciso ou perdido: se diz que está “entre San Juan e Mendoza”. Talvez seja esta a melhor forma de definir nossa aventura. 

Assim, nossa expedição nasceu alguns meses antes, quando ficamos sabendo que o Mundial de Rally Cross-Country passava por alguns lugares da Argentina, como a cidade de Carlos Paz, e que o próximo Rally Dakar seria na região. Decidimos então explorar com nossos 4×4 os caminhos das cordilheiras e visitar vinhedos e olivícolas de Mendoza e San Juan. 

Com o patrocínio da DVA–Veículos, concessionária Jeep e Mercedes, partimos com quatro Wrangler e outros quatro carros rumo a Porto Alegre/RS, para agregar mais quatro jipes com gaúchos. Os carros estavam equipados com rádio VHF, GPS, pneus de uso misto, correntes, cabos, guincho, cambão, ferramentas e numeral.  

Em uma manhã que se anunciava chuvosa, mas que nos brindou com um nascer do sol maravilhoso, partimos as 7h00 de Porto Alegre rumo aos Andes. No caminho ficamos sabendo que nossa reserva na Argentina tinha sido cancelada por causa de um feriado na segunda-feira. A reserva seria mantida apenas se fôssemos passar mais de um dia em Concórdia. Decidimos alterar a programação e fazer uma escala em Rivera, para a alegria de nossas companheiras, que resolveram buscar uma trilha rumo às lojas de free-shop. 

Ksados 4x4

Enquanto isso, os homens estabeleceram uma mesa redonda para debater sobre as vantagens e desvantagens da cerveja uruguaia em relação ao produto nacional. Entre um copo e outro, as horas transcorreram rapidamente, para alegria do limite dos cartões de crédito e tristeza dos “debatedores” etílicos. As lojas fecharam e voltamos ao hotel. 

Na manhã seguinte, todos uniformizados e cheios de expectativas, assumimos os carros. Foi um dia bastante atribulado. O dia amanheceu com uma forte chuva, que se estivéssemos em uma trilha seria bem vinda, mas nas condições de saída da cidade foi complicado. O José, que gosta de um conforto e uma bebida gelada, deixou a geladeira de bordo ligada, resultado: ficou sem bateria.  

Depois do Márcio se perder do comboio em Rivera, finalmente conseguimos rodar rumo a Salto. No caminho fomos surpreendidos por uma corrida de cavalos, em plena estrada, o que nos atrasou um pouco; mais adiante encontramos uma outra corrida, agora eram pessoas correndo no meio da estrada. Mais atraso. Para culminar o César, um dos gaúchos, se esqueceu de abastecer, sendo necessário deslocar um carro do comboio até Salto para buscar gasolina. 

Além de todos os contratempos, temos as fronteiras do Mercosul. Isto é o típico realismo fantástico latino-americano. Depois de algumas horas de burocracia, de documentos que devem ser preenchidos à mão em plena era da computação, entramos na Argentina.   

Passamos pelo túnel subfluvial de três quilômetros que liga a cidade de Paraná (Argentina) a Santa Fé. Já era noite e todos estavam cansados e famintos, por isto decidimos ficar em um hotel no caminho, na cidade de San Francisco. 

 

Loja Planeta Off-Road

 

Aquela noite fez bastante frio, os termômetros marcaram -1°C, por isto nos preparamos para temperaturas muito baixas. Partimos para Carlos Paz, com blusões e cuecão, mas nossas expectativas não se confirmaram, fez um calor enorme de 28°C. Além disto, a recepção que tivemos em Carlos Paz foi tão calorosa quanto a temperatura. Entramos por uma pequena rua e chegamos à beira de um grande lago. O dia estava excepcionalmente iluminado, contribuindo para o astral de nossa chegada quando fomos surpreendidos pelo secretário de turismo, Sr. Carlos Alberto Azzaretti e por sua equipe e também pela televisão local.  

Em seguida rumamos para Los Gigantes, uma das mais antigas formações rochosas da América do Sul. Neste local muitos aventureiros vão escalar e fazer trekking, para nós significou o início do off-road, pois até então o percurso tinha sido por estradas asfaltadas e não víamos a hora de pegar um fora-de-estrada. 

Ksados 4x4

O caminho é de rípio, com muitas pedras soltas e risco para pára-brisas. Por um longo caminho sinuoso chegamos a uma região conhecida como Los Tuneles. Trata-se de uma estrada estreita através de uma cadeia de montanhas com terra árida e seca, muitos túneis, vegetação rasteira e pouco verde. Após uma curva, fomos surpreendidos com a visão de um vale plano e extenso, a perder de vista, de um verde azulado que, à primeira vista, parecia um mar escuro e sem ondas.  

Já tínhamos rodado 180 quilômetros de fora-de-estrada e nosso bravo Engesa, carro incrementado pelo Sérgio, resistia ao péssimo estado do caminho, mas, num determinado momento perdeu um parafuso da suspensão e, ao mesmo tempo, furou um pneu. Resultado: duas horas para consertar o veículo.  

Ao entrarmos no vale nos deparamos com uma reta interminável de 70 quilômetros de areia fina e persistente; nossos jipes lembravam o Papa Léguas fugindo do coiote. Uma Land Rover Discovery teve uma rápida pane eletrônica no meio de tanto pó, voltando a funcionar sem nenhuma interferência.  

Foi divertido dirigir, mas tínhamos que ficar muito atentos às lagoas de puro pó, altas lombadas e animais, que foram anunciados pelo carro 02, pois o guia, carro 01, bem experiente em off-road, aproveitou para matar a saudade dos rallies e sumiu no pó. 

Ksados 4x4

Chegamos à noite em San Juan cansados, empoeirados e com fome. Desta vez não houve problemas com a reserva, porém, como era domingo o restaurante do hotel estava fechado. Parece incrível, mas na Argentina os restaurantes dos hotéis não funcionam no domingo. Mesmo cansados tivemos que sair para jantar antes de cair na cama.  

O dia seguinte foi atípico em nossa expedição: cansados, decidimos passar o dia em San Juan para relaxar e a tarde sair para um passeio curto ao redor da cidade. O dia começou com a derrota do Brasil para a Argentina. Não foi fácil suportar as brincadeiras dos “hermanos”. Passeando pela cidade, todos buzinavam e faziam sinais sobre os 3 x 0 do jogo.  

Tivemos que fazer pequenos reparos em alguns carros devido a aventura do dia anterior. O longo trecho de areia fina obrigou a limpeza dos filtros de ar.  

A tarde fomos visitar a Cava Zonda, uma produtora de champanhe encravada no meio da montanha. Ficamos sabendo que só existem outras duas no mundo, uma na França e outra na Moravia. Após a degustação de champanhe, saímos a fazer pequenos trechos de off-road ao redor da cidade.  

Alguns contratempos atrasaram a partida no dia seguinte. Primeiro uma confusão ao encerrar a conta do hotel, que cobrou uma diária a mais, um “equívoco” comum por estas bandas. Depois entrevista com a Rádio Nacional de San Juan.  “Parece que estamos ficando conhecidos por acá, por supuesto”, disse o guia. Não havia como não chamar a atenção, eram 12 carros adesivados, pilotos e navegadoras uniformizados.  

Abastecemos os carros e nossas despensas e seguimos para El Leoncito. No caminho, uma placa parecia advertir sobre o que iríamos encontrar, dizia “camino dañado” que quer dizer caminho com defeito, mas parecia para nós, danado mesmo. Fomos em frente em uma estrada sinuosa e nos aproximamos do grupo de montanhas que constituem os Andes. Passamos por vários leitos secos que no verão se transformam em rios caudalosos por causa do degelo. A estrada passou então a ser uma trilha no meio de rochas imensas, causando-nos uma sensação de opressão e deslumbramento. 

Ksados 4x4

A temperatura começou a cair rapidamente e em breve os primeiros jipes do comboio passaram a falar eufóricos no rádio que estavam na neve. Colocamos os carros em 4×4 e algumas pequenas derrapadas lembrava-nos este fenômeno tão natural quanto estranho para os brasileiros. Para alguns era o primeiro contato com a neve.   

Após várias curvas chegamos a uma planície no meio das montanhas e logo estávamos em El Barreal, uma grande extensão de terra, de barro branco e seco, muito utilizada pelos argentinos para Windcar, carro a vela. Partimos depois rumo ao observatório astronômico de El Leoncito, onde recebemos informações sobre pesquisas astronômicas que buscam maior compreensão sobre o funcionamento do Sistema Solar. O observatório se encontra a 3000 metros do nível do mar, fato que provocou mal-estar em alguns parceiros.  

Alguns quilômetros adiante mais problemas em um dos carros. Um vazamento no sistema de óleo do freio do Troller fez com que ficássemos mais de uma hora para resolver o defeito, usando produtos de reposição fornecidos pela DVA.  

Atrasados, chegamos em Uspallata, só para descobrir que nossas reservas também tinham sido canceladas sem maiores explicações. Assim, forçosamente seguimos para Mendoza, chegando à noite. Cansados e famintos tivemos que nos acomodar em dois hotéis. 

Em razão do longo fora-de-estrada do dia anterior, resolvemos aproveitar para conhecer pontos turísticos de Mendoza e à tarde fomos visitar a Olivícola Laur, onde aprendemos o método de preparo do azeite de oliva e do cultivo da azeitona. Um outro grupo visitou a vinícola Luigi Bosca. 

Na manhã seguinte, combinamos mudanças no projeto inicial. Não contávamos com a escassez de combustível, que se transformou em séria preocupação com a possibilidade de não podermos atingir os lugares remotos que pretendíamos.   

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Resolvemos partir em direção ao Chile. O comboio foi até a fronteira onde visitamos a Puente del Inca, formação rochosa natural onde existia um hotel de águas termais destruído por uma avalanche. Fotografamos a igreja que foi a única construção que resistiu ao deslizamento de neve anos atrás.  

Na medida em que subíamos a cordilheira o frio ia aumentando. Em pouco tempo encontramos neve e um tráfego intenso, principalmente de caminhões, muitos brasileiros. Próximo de Los Penitentes, uma estação de ski junto à estrada para o Chile, havia uma fila de caminhões de alguns quilômetros esperando a liberação da estrada. No fim de semana havia nevado intensamente e por isto a pista estava sendo liberada aos poucos.  

A Land Rover Defender 110 do Carlos, que não tinha nem 3000 quilômetros, apresentou vazamento do óleo da direção hidráulica. Por esta razão, um grupo resolveu continuar viagem até o Chile e visitar estações de ski e o outro decidiu voltar a Mendoza e achar solução junto à concessionária. 

Nos despedimos do grupo que decidiu ir ao Chile com alguma tristeza, pois estes dias juntos foram muito divertidos e serviram para aprofundar a camaradagem que já existia, criando sentimentos de amizade e companheirismo em quem ainda não se conhecia. 

Voltamos a Mendoza para descobrir que não havia solução rápida para o problema mecânico da Land, entretanto, poderíamos continuar a viagem, pois a falha do carro não impediria seu deslocamento.  

O grupo que ficou na Argentina decidiu então manter o programa de retornar para os Andes via ‘Trilha das 361 curvas”.  

Rumo às 361 curvas percorremos vários postos à procura de combustível e só conseguimos abastecer ao pegar a estrada. Pareceu-nos ter muito mais do que 361 curvas. São curvas bem fechadas em uma estrada de rípio e alguns trechos de barro, devido ao descongelamento da neve que se deposita nas montanhas ao redor deste “sendero”. 

Chegamos a 2850 metros de altitude; com a neve o caminho ficou escorregadio em alguns trechos. A adrenalina estava alta e algumas pessoas ficaram bastante assustadas, mas isto não nos impediu de brindarmos e almoçarmos rodeados de um branco indescritível. 

No dia seguinte rumamos para o Valle de La Luna, entretanto, o problema de vazamento em um dos carros e a dificuldade de combustível nos fizeram rever nossos planos, com alguma tristeza achamos melhor deixar este trecho para uma próxima expedição. 

Seguindo em direção a Córdoba, descobrimos um off-road que nos levou a Estância Jesuítica Candelária, responsável por sustentar as instituições religiosas e educativas fundadas pelos jesuítas de Córdoba.  Um passeio imperdível, repleto de curvas, estrada estreita, vários riozinhos e muitas pedras e que nos levaram ao passado daquela região. 

Rodamos em direção a Córdoba passando por várias cidades, entre elas a cidade balneária de La Falda, na qual está instalado o Hotel Éden, hoje desativado, famoso por ter hospedado várias celebridades como Albert Einstein e Príncipe de Gales Ortiz. Chegamos em Córdoba por volta das 21h00, e por ser domingo, o restaurante do hotel não funcionava, o que nos forçou a buscar um restaurante nos arredores. 

Durante nosso regresso ficamos sabendo que Demétrio Serratine/Beatrice e Paulo Cezar/Graça, continuaram viagem rumo Ushuaia, enquanto outra parte do grupo seguiu para curtir a metrópole argentina e atravessar o Rio da Prata pelo Buque Bus. 

Após a burocracia do preenchimento dos papéis na alfândega (Aduana) agora unificada em um mesmo prédio – Argentina e Uruguai – seguimos rumo às Termas do Arapey no Uruguai, onde jantamos surpreendidos por mais um feriado. Em função do feriado não encontramos hospedagem e rodamos até Santana do Livramento, onde chegamos às 3h00 para dormir.  

No dia seguinte, rodamos para Porto Alegre a caminho de casa. 

Ksados 4x4

Formação do Comboio 

01 – Jeep Wrangler 2007 – Jane e Renato Hadlich (guia)
02 – Jeep Wrangler 2008 – Jane e César Antunes
03 – Jeep Wrangler 2008 – Jaqueline e César Martin
04 – Jeep Wrangler 2008 – José Jardim
05 – Land Rover Defender 110 2008 – Zilá e Carlos Farenzena
06 – Troller 2005 – Beatrice e Demétrio Serratine  (meio comboio)
07 – Engesa 2004 – Patrícia e Sérgio Prado
08 – Ford Ranger 2008 – Márcia e Márcio Damiani
09 – Land Rover Discovery 2008 – Rose e Élson Pucci
10 – GM Tracker 2008 – Isabela, Juliana e Douglas
11 – Toyota SW4 2006 – Kátia e Maurício B. Snheren
12 – Ranger Rover 2008 – Graça e Paulo César da Silva (final comboio) 

Ocorrências 

Um pneu furado – Engesa
Pino da suspensão – Engesa
Tubulação do freio – Troller
Proteção interna do pára-lama – Toyota
Problemas eletrônicos – Range Rover
Vazamento de óleo – Land 110
Problemas nos faróis – Tracker
1 multa – faróis apagados – Wrangler
1 multa – excesso de velocidade – Engesa 

 

 

 

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