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Extremo Norte
Estados Unidos, Canada e Alasca; 35 dias de viagem e hospedagem em 25 lugares diferentes; raposa, urso, caribou, águia, baleia, bisão, moose; 12.081 km rodados em asfalto, terra, barro e neve; veículo 4×4, rádio, bagageiro, roda sobressalente, cinta para reboque, ferramentas, saco de dormir, água, alimento e sobretudo, um bom “sobretudo” porque lá faz frio, muito frio mesmo
É bom lembrar que esta não é uma viagem fácil, daquelas que basta arrumar as malas e entrar no avião. Ela exige minuciosos preparativos e um motorista disposto a dirigir por horas seguidas em estradas desertas. Ainda no capítulo das dificuldades, a oferta de hotéis é restrita às cidades maiores, que são distantes umas das outras. A essa altura, você pode estar se perguntando: com tantas dificuldades, por que algum brasileiro se aventuraria a chegar ao fim das Américas? Em primeiro lugar, para sentir o gosto de desbravar uma região, como diriam os ecologistas, “incólume à ação do homem”. Em segundo, para encontrar atrações que você jamais veria no Brasil: neve, ursos, lagos congelados, caribus (espécie de alce), a Aurora Boreal, o Círculo Polar Ártico, a águia, o caranguejo gigante, as Montanhas Rochosas, o sol da meia noite, o halibut (delicioso peixe do ártico). Um mundo bem diferente do nosso!
Como já conhecemos (eu e minha esposa) o “Extremo Sul” da Terra em viagem de jipe à Patagônia (Ushuaia), o objetivo agora foi percorrer, também em um 4×4, desde o Norte dos EUA até o Alasca, passando pelas Montanhas Rochosas, no oeste do Canadá.
Até chegarmos ao norte do Canadá a viagem foi tranquila, com estradas de mão dupla, bom asfalto e sinalização. A partir daí, devido às condições do rigoroso inverno, as estradas começam a piorar. Nesta época (fim do inverno) o governo começa a recuperar as estradas, mas ainda assim encontramos muitos trechos ruins.
Entramos no estado de Yukon, pela “Alaskan Highway”, considerada parte da “Pan-American Highway”, estrada que vai do Alasca ao sul do Chile. Ali começa a “Dempster Highway”, estrada que deu origem ao documentário “Ice Road Truckers” (Caminhoneiros do Gelo), séries de televisão do “The History Channel”. Esta estrada, com 742 km de extensão, é toda de terra e termina em Inuvik, pequena cidade Inuit (nativos esquimós) a 325 km acima do Círculo Ártico.
Os serviços como combustível, pequenos reparos, alimentação e hospedagem são escassos, se limitando a Eagle Plains (365 km) e Ft. McPherson (555 km).
Devido à agenda apertada, não fomos até Inuvik, nos limitando ao “Tombstone Mountain Yukon Park”, imenso parque no km 73 que possui Centro de Informações e área para camping com boa infraestrutura.
De lá, seguimos para a base para todos os passeios na região, “Dawson City”, pequena cidade que conserva sua arquitetura da época da Corrida do Ouro, com hotéis, lojas, igrejas e até um saloon, com shows de dançarinas Can-Can.
Não existe ponte para atravessar o Rio Klondike e uma pequena balsa é a única opção para acessar a “The top of Highway”, estrada mais alta do mundo que caminha pelo topo das montanhas até a fronteira com o Alasca. Com 127 km de extensão e toda de terra, esta estrada só está aberta durante os meses de verão e apenas entre 9h00 e 21h00.
Entrando no Alasca, fomos até Fairbanks, última cidade sentido norte com infraestrutura. Ali nos preparamos (nós e o jipe), para a parte mais complicada da viagem: subir até o “Extremo Norte” da Terra na cidade de DeadHorse (Prudhoe Bay) já no Oceano Ártico, pela não menos lendária estrada “The James Dalton Highway”.
Esta estrada, com seus 800 km de extensão e apenas um ponto de apoio (Coldfoot) no km 395, é também cenário do documentário “Ice Road Truckers” (Caminhoneiros do Gelo). De terra e cascalho, com pouca ou nenhuma infraestrutura, onde nos aconselharam, por exemplo, levar dois estepes, ferramentas, rádio, combustível extra, saco de dormir, alimentação e se precaver com uma boa dose de cuidados.
Como as condições climáticas podem variar muito nesta época do ano, você pode dirigir com neve, barro, com cascalho solto e mesmo com muita poeira, fazendo com que, além de tomar cuidado ao dirigir, ainda tenha que ficar atento a chuva de cascalho que as carretas possam te dar.
Chegando à cidade de Coldfoot percebemos que o lugar não é bem uma cidade (no inverno a população é de 15 habitantes), se resumindo a um pequeno hotel tipo container, uma lanchonete / restaurante / mercearia, agência dos correios, uma bomba de diesel e uma de gasolina, uma oficina para pequenos reparos com borracharia e só. Como as pessoas me confirmaram que em DeadHorse (Prudhoe Bay) a infraestrura é mais ou menos a mesma, a partir dali passei a tomar mais cuidado ainda com o carro.
Entretanto, toda essa aventura foi recompensada com uma exuberante natureza selvagem, florestas, tundras, rios e lagos, o Círculo Polar Ártico, animais como o caribu, o urso pardo e diversos pássaros. Enfrentamos o “Atigun Pass” (famoso “passo de montanha” com 1.444 m de altitude) que é velho conhecido de caminhoneiros e pilotos de pequenos aviões pela sua difícil transposição. Finalmente a última cidade, “Deadhorse”, que é o apoio da comunidade para a Baía de campos de petróleo de Prudhoe Bay, já na beirada do Ártico. Depois de “Coldfoot” é onde se encontra alguma infraestrutura básica como telefone, combustível, hospedagem e alimentação, com uma população permanente de aproximadamente 50 residentes.
Da janela do “hotel”, tivemos a experiência do “sol da meia noite”. Devido à localização de Deadhorse, acima do Círculo Polar Ártico. No inverno, o fenômeno oposto ocorre, que é a “noite polar”.
O pequeno hotel onde ficamos tem dois andares e também é de módulos pré-fabricados. Não tem banheiro nos quartos e nem café da manhã, sendo as refeições pagas à parte. Em “compensação”, a diária é de U$200 e todos os hóspedes deixam os calçados no hall de entrada, só podendo andar lá dentro descalço ou de meia. Coisas do Alasca…
Tudo ali é mais caro devido ao custo do transporte, que é de avião ou carreta, sendo que no inverno, o custo quase triplica devido às dificuldades de se chegar alí.
Hora de começar a voltar para o Sul pela mesma (e única) estrada “Dalton Hwy”. De volta a Fairbanks, demos uma merecida manutenção no carro (ele estava um mulambo), fizemos supermercado e descançamos um pouco para continuarmos a viagem, agora sempre no sentido sul.
Próxima parada foi no Denali National Park and Preserve, com 24,585 km² de área e onde está localizado o Monte McKinley, montanha mais alta da América do Norte com 6.194 e a maior geleira, que é a geleira Kalhiltna.
O parque foi declarado uma reserva Internacional da Biosfera em 1976. O Parque é o lar de uma grande variedade de aves e mamíferos do Alasca, incluindo uma população saudável de ursos pardos e negros. Ovelhas são vistas nas montanhas, manadas de renas vagam por todo o parque, alces se alimentam de plantas aquáticas dos pequenos lagos e pântanos e, apesar do impacto humano sobre a área, o Denali ainda acomoda o lobo cinzento.
Um dos cenários mais procurados do Parque, o Monte McKinley, só conseguimos avistar quando saímos do Parque e pegamos a estrada em direção ao Sul. Vimos um motorhome parado ao lado da estrada e pensamos que estavam vendo um urso ou outro animal. Quando diminuímos a velocidade tivemos a visão de toda a montanha, sem nenhuma nuvem a cobri-la. Logo depois, muitos carros pararam, porque esta visão total não é muito comum de acontecer. Foi realmente um presente!
Mais a frente na estrada, outro presente: um enorme urso pardo atravessava a estrada na maior calma. A agitação foi tão grande que quando conseguimos parar o carro e ligar a máquina fotográfica ele já estava no acostamento. Neste tipo de viagem, se você quer ver a vida selvagem a primeira regra é: tenha paciência e espere, é quase como jogar na loteria; pura sorte!
Chegamos em Anchorage no final da tarde e fomos procurar hotel. Como a cidade é a maior do Alasca (370.000 hab), tudo fica mais difícil e custamos a conseguir um hotel. Como estávamos mais interessados na natureza, ficamos apenas um dia, fomos para o sul em direção a Península de Kenai. Depois de passar por uma estrada deslumbrante dentro do Turnagain Arm, um Fiorde que possui algumas das marés mais altas do mundo, chegamos em Homer, pequena cidade (aprox. 6.000 hab)na margem do Kachemak Bay, no lado sudoeste da Península de Kenai. Sua característica mais marcante é o “Spit Homer”, um estreito com 7 km de comprimento que se estende para dentro do mar, no qual estão localizados o porto de Homer, lojas, restaurantes e hotéis.
Continuando pelo Golfo do Alasca, chegamos em Valdez, pequena cidade que freqüentou a mídia mundial em 1989, quando o petroleiro Exxon Valdez estava deixando o terminal de Valdez cheio de óleo e um vazamento ocorreu em Bligh Reef , a cerca de 40 km de Valdez. Apesar de o óleo não chegar a Valdez, o óleo devastou grande parte da vida marinha na área circundante. Para chegarmos ao nosso próximo destino (a cidade de Haines) por via rodoviária, tivemos que dar uma longa volta, entrando no Canadá, passando pelas cidades de Whitehorse e Tok novamente, para depois voltar ao Alasca e chegar finalmente à cidade de Haines. Nossa última parada no Alasca foi a cidade de Skagway e para não dar outra volta enorme por rodovia, optamos por embarcar o jipe em um ferry-boat para ganhar tempo.
Skagway é uma pequena cidade turística que conserva sua arquitetura da época e que ficou famosa devido ao seu envolvimento no “Klondike Gold Rush”, quando em 1896 o ouro foi encontrado no Klondike, região do território de Yukon no Canadá. Saindo de Skagway, com poucos km de estrada já entramos no Canadá novamente, que é o único caminho rodoviário para os Estados Unidos. Agora a viagem foi em ritmo de retorno, ou seja, dirigir o dia inteiro para cumprir o cronograma e chegar em Seattle na data programada para o voo de volta ao Brasil. E agora já é hora de começar a pensar e planejar a próxima viagem…
Dados da viagem
Tempo
Dias com sol: 19 / Dias com chuva: 16
Dias na estrada: 26 / Jornada mais longa: 15 horas
Estadia mais longa: 3 dias (Seward/Alaska)
Temperatura: menor -7ºC (DeadHorse) / maior 23ºC (Pr. George – Canadá)
Quilometragem
Total: 12.081 km / Sem asfalto: 2.150 km
Maior km em um dia: 1.170 km
Médias de velocidade: menor 48 km/h / maior 110 km/h
Combustível
Consumo total: 1.173 litros
Consumo médio: 10,3 km/l
Preço da gasolina: mais barata R$ 1,50 (EUA) / mais cara: R$ 1,70 (Alaska)
Deslocamentos
Melhor estrada: Highway 5 (Washington/EUA)
Pior estrada: The James Dalton Highway (Alaska)
Travessias de fronteiras: 6
Menor altitude: 0 m (DeadHorse – Prudhoe Bay)
Maior altitude: 4.127 m (Highway World)
por: Maurício Santos
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