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Marrocos
Maio 28, 2013

Pra lá de Marrakech

Religião, cultura, um enorme apanhado de sensações. Ative seus sentidos e viaje conosco em uma aventura de 3800 quilômetros pelo Marrocos 

Ocre, quase vermelho, com palmeiras milenares que arranham o céu impondo o verde. O vento sopra mistério que vem de trás do Atlas e leva sonhos, imaginação de quem, de longe, vê Jbel Toubkal, o pico coberto de neve, a 4167 metros de altitude. 

Olhei em volta e estava em Marrakech, a cidade vermelha, onde, ao meio da irreverência de encantadores de serpentes, faquires, engolidores de espadas e curandeiros, não parava de sonhar com o que me esperava nos próximos dias de viagem: o deserto do Saara, a 670 quilômetros dali, logo depois da travessia do Atlas, a maior cadeia de montanhas do norte da África. 

Djemaa el-Fna, a mais famosa praça de Marrakech, é um lugar especial, encanta os olhos e aguça a curiosidade. De dia, o movimento de charretes, pequenas motonetas, homens e mulheres com suas túnicas coloridas e uma infinidade de atrações batem com um leve sussurrar no peito e dizem a todo o momento: “você está na África, África, África…”. À noite, o cenário muda e no lugar dos artistas surgem barracas com comidas típicas, um véu de fumaça e aromas que saem das cozinhas.  

Marrocos

Três dias antes 

Cheguei na Europa por Lisboa, em Portugal. Ali peguei a motocicleta, minha companheira na viagem ao deserto, para perto da fronteira do Marrocos com a Argélia, a 1400 quilômetros da capital portuguesa. Todo o roteiro foi planejado pela Dr. Moto Brazil, uma operadora com sede na Vila Mariana, especializada em roteiros de moto pelo Brasil e Marrocos. No dia seguinte, acordei e parti com os guias para Tânger, primeira cidade do Marrocos, a quase 700 quilômetros de Lisboa. Para entrar em Tanger o caminho é um só, o Estreito de Gibraltar. 

Gibraltar, com seu mar bravo e profundidades que chegam aos mil metros, segundo alguns pesquisadores, pode ser a “muralha” que protege e esconde a cidade perdida de Atlântida, que teve como primeiro rei, o titã Atlas, que foi petrificado por Perseu, dando origem ao que é hoje o Monte Atlas.  

Chegamos à Tarifa, cidade fronteiriça da Espanha com o Marrocos, às 21h, onde pegamos o barco para Tânger, a cidade azul. Naquele país, cada cidade imperial tem sua cor. Fez, a capital espiritual, é amarela, Tanger é azul, Méknes, verde,  Marrakech, vermelha, Casablanca e Rabat, capital do país, são brancas. Todas as construções obedecem a tons predefinidos. 

 

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Tanger  

A cidade é o portal para o continente africano, uma espécie de zona franca. É impressionante o ritmo das pessoas. Para quem chega de fora, o trânsito é uma loucura. Mas, incrível, flui perfeitamente e não se vê uma briga. As pessoas se respeitam. O marroquino é um povo que consegue alinhar as tradições do passado com os movimentos mais contemporâneos. Em Tanger, como em Rabat, a capital do país, é possível ver isso. São cidades que mesclam a modernidade com a tradição. Vou usar as mulheres como exemplo, pois, devido à diferença cultural, são um dos maiores mistérios dos muçulmanos para nós ocidentais. É possível ver mulheres totalmente escondidas em burcas ao lado de outras naturalmente ocidentalizadas, geralmente as mais novas, e trabalhando em todo tipo de profissão. Mas, o mais bonito é que, mesmo com essa mudança, os valores e o respeito à religião e ao semelhante permanecem e unem o povo. Em Tanger dá para sentir isso nas ruas. As burcas, ao contrário do que pensamos por aqui, não são obrigatórias, mas podem ser vistas por todo país, principalmente no interior.  Vale o passeio pelo Petit Socco, uma das principais atrações, e pela kasbah, que abriga o museu Dar el-Makhzen que, em outros tempos, foi palácio do sultão. 

Marrocos

Marrakech 

De Tanger partimos para Marrakech, a porta para o deserto e principal cidade turística do país. O lugar é repleto de palmeiras. Conta a lenda que a cidade surgiu do rastro das caravanas que vinham do deserto. Os nômades sempre paravam para se alimentar naquela região, comiam tâmaras e deixavam as sementes pelo caminho. Essas criaram um milagroso casamento com a terra árida do lugar e assim floresceu um jardim de tamareiras, um oásis de tâmaras, o mais bonito do Marrocos. Tanto que foi escolhido para construir a cidade que daria nome ao país.  

Em Marrakech, os hotéis são uma atração à parte, verdadeiros palácios, mouriscos. Não é à toa que o lugar abriga um dos melhores hotéis do mundo, o La Mamounia, um verdadeiro tesouro em meio ao oásis, um cenário das 1001 noites árabes. Construído em 1923, ao lado da muralha da medina, em tempos de domínio francês, o hotel tem como assinatura um maravilhoso jardim que serviu de presente de casamento de um sultão a um de seus filhos. 

Travessia do Atlas e Arfoud 

Saímos pelo sul de Marrakech, sentido o grande Atlas. O roteiro nos levou a 2600 metros de altitude, por uma estrada bem sinuosa e com um cenário maravilhoso. No caminho deu para entender o porquê da famosa expressão: “pra lá de Marrakech”. O visual mudou, começou a tomar ares de interior, de deserto. Foram 615 quilômetros, dentre eles a travessia do Atlas, cheia de agradáveis surpresas, até Arfoud. Na solidão, meus olhos testemunharam momentos únicos que só um lugar marcado pela forte presença da natureza, histórias e mistérios pode proporcionar. E o pensamento foi longe na tentativa de resgatar toda a história e lendas que aquela região acumula. 

Marrocos

Paramos em um povoado onde mostram a produção e comercializam o óleo de argan, que é muito procurado e utilizado no Marrocos. Ali descobri que é possível comer o argan, mesmo como óleo. Mas, cuidado! O óleo de argan que se come no Marrocos é produzido para se tornar alimento, não queira fazer isso com outro tipo que não tenha essa função! Dali, continuamos a ‘escalar’ o Atlas, que proporcionou um encanto a cada curva. De longe, avistei um furgão antigo parado na beira de um abismo. Aquilo me chamou a atenção. Diminui a velocidade para entender o que acontecia. Olhando para o vale, alguns muçulmanos rezavam voltados para Meca, com um cenário espetacular à frente. A força daquele momento foi tão grande, que levei uns bons quilômetros para voltar a pensar em outra coisa.      

A religião é presente em todo o território. Percebi isso no barco, ainda na travessia do Estreito de Gibraltar. Lá, um homem de 50 e poucos anos tirou um pequeno tapete da bolsa, uma bússula, e ajoelhou-se para rezar, voltado para Meca. No escritório da guarda da fronteira de Tanger, havia uma sala para os guardas rezarem. Até em shoppings vi espaços assim. Não é fanatismo, é um modo de viver, de se portar com respeito perante as pessoas, de se alimentar bem e sem exageros, e de cultivar a harmonia de um povo, que usa sabores, aromas, texturas, música e cores, entrelaçados com sua fé, para ser feliz. E posso garantir, funciona. Me senti mais seguro e bem recebido no Marrocos do que em algumas regiões do Brasil. E isso reconforta, pois as diferenças culturais sempre tendem a criar dúvidas e receios para quem viaja. No Marrocos isso não existe, mesmo quando você se aventura pelos cantos mais inóspitos do país.  

Ainda no Atlas, nossa parada aconteceu em Arfoud, uma cidade Oásis, fundada pelos franceses em 1913 e, na época, base de uma unidade da Legião Estrangeira. O lugar tem 28 mil habitantes e tem duas atividades econômicas bem favorecidas pela região, a produção de Tâmaras e a extração de um tipo raro de mármore negro com fósseis. Alguns artistas esculpem o mármore para realçar os fósseis. Em Arfoud nos hospedamos em um dos hotéis da rede Xaluca, o Dades, que fica em uma região privilegiada da cidade, abraçado pelo Atlas, a 1612 metros de altitude. Lindo lugar! 

Marrocos

Dunas de Merzouga 

O Sol timidamente se colocava no céu quando ligamos os motores com destino às dunas do Saara, em Merzouga. O objetivo era visitar o Erg Chebbi, um dos dois conjuntos de dunas do Marrocos, que fica a 10 quilômetros da fronteira com a Argélia.  

Uma enorme reta, com asfalto muito bem-feito, como todas do Marrocos, é a estrada que nos levou até Merzouga. Dos dois lados areia e lá na frente, muito antes de chegar, já dava para avistar as dunas. O deserto é mágico, alguns marroquinos dizem que cura até reumatismo. Quando paramos, ainda no asfalto, o coração bateu mais forte, estávamos a poucos metros das dunas do Saara, algumas com até 150 metros de altura.  

Dali para frente o trecho era de areia, os primeiros metros cobertos com uma espécie de alcatrão, o que dá um contraste único com o vermelho que o Sol pinta nas dunas. Depois de atravessarmos alguns vilarejos de areia, chegamos ao segundo hotel da rede Xaluca que fazia parte do nosso roteiro, o espetacular Tombouctou. Totalmente exótico, ele divide espaço com algumas dunas. No final do dia dá para ver o Sol se pôr nas dunas, da piscina do hotel. É um momento único.  

O Xaluca proporciona uma experiência única aos seus hóspedes. Desde passeios de 4×4 e motos fora de estrada, noites em acampamentos touaregs no deserto, os bivouacs, até passeios com dromedários pelas dunas. Resolvi aproveitar para saciar uma vontade antiga, fotografar o nascer do Sol no Saara. Rapidamente, me ajudaram nessa empreitada. Um guia touareg, um dromedário e um despertador programado para às três e meia da manhã. Valeu cada minuto, voltei cansado, com sono, mas feliz e renovado. Realmente, o deserto é mágico e merece ser explorado.  

Marrocos

Fez 

Do deserto, rodamos 500 quilômetros até Fez, a capital espiritual e cultural do Marrocos. A cidade reserva para seus visitantes a terceira maior medina do mundo, que é declarada Patrimônio Mundial da Unesco. Além disso, a cidade abriga a maior e mais antiga Mesquita da África. Fundada em 808, Fez foi capital do país durante vários períodos. Ali, existe a universidade mais antiga do mundo, ainda em funcionamento e datada de 859.  Para os brasileiros, a referência de Fez é a novela O Clone, que foi filmada por lá em 2001. 

Nos hospedamos no Palais Jamai, um hotel construído em 1879, que fica dentro da Medina e faz parte da rede Sofitel de Luxo. O Palais Jamai já foi residência do Grão-Vizir Jamai. A principal atração da cidade é a visita à Medina, um labirinto com 11 mil ruas, um souk (mercado), lojas de artesanatos, fábricas de pão e aproximadamente 3500 pessoas residindo por trás de seus altos muros. Se quiser entrar na Medina, contrate um guia, é fácil se perder por lá.  

Marrocos

À noite, resolvemos jantar em um riad. Os riads são pequenas pousadas de luxo, típicas, construídas dentro das casas da Medina. Eles mantêm a arquitetura original e oferecem aos hóspedes a experiência de viver alguns dias na Medina. Quando caminhávamos por volta das 21h pelas ruas estreitas da Medina, nosso guia, o Hassan, parou e bateu três vezes em uma porta bem trabalhada e antiga. Da porta, avistamos um pequeno palácio, com uma decoração única, digna de reis, o Riad El Amine. Como estávamos hospedados no Palais Jamai, nossa experiência no riad foi apenas um jantar, que representou com muito charme e sabor a gastronomia gourmet do Marrocos. Fiquei com vontade de voltar para me hospedar no Riad El Amine. 

Alimentação 

O Marroquino está focado na saúde, come o necessário e com qualidade. O prato que mais se vê, no dia a dia, é o Tajine de Cordeiro. Tajine é o nome da panela que prepara e serve a receita, ela parece um vulcão e faz o vapor circular para cozinhar a carne e ingredientes como batatas, tâmaras, ameixas, amêndoas, cebola, gengibre e especiarias. Quando serviram meu primeiro Tajine descobri para que era o pão árabe que estava na mesa, para pegar a comida.  

Os mais tradicionais comem sem talheres e pratos, todos dividem o Tajine, muito bom! Quando o prato é servido, quem serve chega à mesa e fala “Bismillah” que, em árabe, significa “em nome de Deus”. É uma forma de agradecer a presença de todos. 

As frutas, também, são muito apreciadas por lá e a água, talvez pela proximidade com o deserto, é consumida em abundância. A experiência de alguns dias nesse ritmo me fez repensar minha alimentação. Voltei com novos costumes, como comer mais frutas, beber mais água, não ter pressa nas refeições, aproveitar cada momento à mesa e se alimentar para viver e não viver para se alimentar.  

Quando voltei, me perguntaram se o Marrocos valia a pena ser conhecido. Sim, vale passar um bom tempo por lá e voltar sempre. 

4×4 em Portugal e Marrocos 

A Tapada de Mafra e o deserto do Saara foram os dois passeios 4×4 que fiz nessa viagem. Mafra fica em Portugal, lugar belíssimo, cheio de história e aventura. Saí de manhã para uma trilha, na Nissan Patrol de Pedro e Vitor, proprietários da Pró Aventtura e meus guias na trilha. O passeio é completamente diferente do que estamos acostumados no Brasil. No caminho, gamos, veados, raposas e javalis cruzam a trilha a todo momento. A Tapada de Mafra tem 1187 hectares e foi criada em 1747 como espaço de recreação para o rei de Portugal e sua corte, na época. Além disso, fornecia lenhas e outros produtos para os conventos da região. O passeio vale muito à pena!    

Marrocos

Para se dar bem no Marrocos 

Os marroquinos são excelentes anfitriões, adoram os turistas. O respeito que têm pelas pessoas e as diferenças, sejam elas culturais ou religiosas, é uma de suas maiores riquezas. Então, sempre que for andar pelo Marrocos, se informe sobre suas regras, costumes e tradições.  

Um exemplo são as fotografias. Muitos marroquinos acreditam que a foto rouba sua alma. Antes de fotografar, para não ofender alguém, peça autorização.  

O chá de menta é um símbolo do país. Em todo ambiente que você chega o anfitrião te recepciona com um bule de prata, com chá de menta, e uma bandeja de biscoitos doces deliciosos. Isso acontece no país todo, seja em uma parada na estrada, em lojas ou hotéis. Procure não recusar o chá. Não é uma obrigação tomar, mas é uma forma de dizer que está feliz por estar naquele lugar. O chá é uma delícia, viciei e tomava pelo menos dois por onde passava. 

Marrocos

por: Fabiano Godoy

 

 

 

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