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Translamazônica
Época de chuvas no norte do país é sinônimo de aventura para um grupo de jipeiros de Minas Gerais
A Transamazônica, rodovia inaugurada na década de 1970, mas que nunca foi concluída, é o paraíso brasileiro do off-road. Seus trechos não pavimentados inundam a mente de jipeiros que sonham em um dia enfrentá-la.
Jipeiros de Belo Horizonte e Betim, em Minas Gerais, resolveram realizar esse sonho. Só que o grupo optou por realizar a viagem de aventura no meio do chamado ‘inverno amazônico’, a época de chuvas na região norte do país. Em razão destas chuvas, a viagem passou a se chamar Expedição Translamazônica.
No dia 20 de fevereiro, nove Trollers saíram da capital mineira com destino a Vilhena/RO, o ponto de partida para efetivamente entrar na floresta. O comboio seguiu para Juína, Aripuana e Conselvan (no Mato Grosso), para depois seguir para Ji-Paraná e Porto Velho, novamente em Rondônia, para então chegar ao ‘Everest’ do off-road no Brasil, o temido trecho da Transamazônica entre Humaitá e Lábrea, no Amazonas.
O primeiro deslocamento por terra e pela floresta foi de Vilhena/RO a Juína/MT. Foram 230 quilômetros em quase cinco horas de viagem. A chuva forte marcou o início da travessia e o sol, a chegada. No roteiro, piso de areia e depois terra com muitas poças de água, buracos e rios cheios. Áreas imensas de reservas indígenas com mata preservada e ao final delas, fazendas também imensas de gado e soja.
De Juína/MT, o grupo foi até Aripuanã/MT, onde se tem a maravilhosa cachoeira Salto das Andorinhas, localizada dentro da cidade e com um volume de água enorme. De lá seguiram até Conselvan/MT, cidade muito rústica no melhor estilo velho oeste, que sequer consta em muitos mapas e onde dormiram mais uma noite.
No dia seguinte, após contato sempre necessário com as pessoas da região, tomou-se o rumo de Ji-Paraná/RO e aí o bicho pegou! Lama, muita lama, caminhões com toras enormes de madeira, pedágio de R$ 150,00 por carro para atravessar uma reserva próxima ao Rio Roosevelt, travessia deste rio por ponte e do Rio Branco, transbordado, com uma longa passagem com água no capô. De quebra, uma caminhonete atolada com dois índios, um indiozinho e duas índias grávidas, a quem foi dado total apoio com comida, água e reboque com cintas. O resultado? Levaram 14 horas para vencer os cerca de 260 quilômetros, que se tornaram uma aventura espetacular!
Em Ji-Paraná e em Porto Velho foram dadas as devidas manutenções nos carros, que, a essa altura, já haviam rodado mais de 4.000 quilômetros desde Belo Horizonte/MG.
A cheia do Rio Madeira impressionou a todos e, na saída da balsa, outra fila se formou para atravessar uma parte alagada da estrada. Um trator cobrava R$ 50,00 para puxar os carros, que não queriam arriscar a passagem pelo alagado. À noite chegaram à Humaitá/AM.
Transamazônica, agora seria a sua vez. O trecho final dessa estrada mística para os off-roaders e que já recebeu visita de gente de várias partes do mundo para atravessá-la em 4×4. Antes da saída, um grupo de Lorena/SP apareceu e contou que foi vencido pela lama e, após terem dormido dois dias acampados na estrada, resolveram voltar por não terem mais condições de enfrentar a estrada.
O grupo então partiu de Humaitá/AM às 6h00 da manhã para tentar chegar a Lábrea/AM o quanto antes possível, aproveitando a luz do dia. Foram 216 quilômetros percorridos em mais de 15 horas. Por quê? Por causa de um atoleiro monstruoso de mais de um quilômetro de comprimento antes da balsa do rio Mucuim, o desafio que venceu os paulistas de Lorena.
Somente quem já esteve ali sabe do que se trata. Valas enormes com uma lama que gruda em tudo. Os pneus, por mais agressivos que sejam, sofrem para se deslocar. Lutando naquela lama, num calor que esgota as forças de qualquer pessoa e bebendo muita água, só o companheirismo os fez andar para frente. O trabalho em conjunto de todos foi a peça chave para transpor aquele obstáculo.
Todos do grupo chegaram a Lábrea cansados e esgotados, mas com um sentimento de terem ido aonde muitos querem e, às vezes, não conseguem.
Mas a cidade de Lábrea é o final da Rodovia Transamazônica e assim, termina no Rio Purus, sem saída. Ou melhor, a única saída é dar meia volta. Mas a volta sempre é mais fácil. Não na Transamazônica, onde a cada dia a estrada está de um jeito. E, quando chove, mesmo que pouco, no pior trecho? Piorou.
Foram 17 horas de Lábrea a Humaitá, com direito a muito mais marretadas em semieixo a ser enterrado na lama e usado de ponto de apoio para guincho, trenzinho de jipes para poder tirar todo mundo do atoleiro. Aquele mesmo atoleiro monstruoso da ida, estava muito, mas muito pior na volta. Mais uma vez o esgotamento físico pegou a todos, mas a alegria de transpor cada metro de lama em um trabalho conjunto valeu todo o esforço.
Uma viagem dessas, por mais recursos que hoje se possa ter na Amazônia, não deixará nunca de ser um teste para qualquer ser humano. As habilidades como jipeiros e como pessoas, são colocadas à prova. O famoso espírito de companheirismo torna-se fundamental. Os desafios com os jipes e com os amigos colocam frente a frente o que verdadeiramente somos. Só com respeito e tolerância – e muita lama – consegue-se ir e voltar de Humaitá a Lábrea sãos, salvos e com as amizades fortalecidas.
por: Bernardo “Juquinha” Clementino
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