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Atacama Solo
Mesmo acostumado com viagens de carro por outros países, Maurício Santos viveu momentos e sensações únicas na expedição de quase oito mil quilômetros que enfrentou sozinho com seu Suzuki Vitara, até Atacama
Sempre viajei acompanhado, a grande maioria das vezes só com minha esposa, e este tipo de viagem (de carro e para outros países) não é novidade para nós. Desta vez, como o título já diz, a viagem foi “solo”.
Em uma viagem assim, existem várias questões que devem ser monitoradas como documentação pessoal e do veículo, o cronograma, as condições do jipe, manipulação do dinheiro, local para pernoite e abastecimento. Além, é claro, de aproveitar tudo que a região tem a oferecer. Por isso, sozinho, resolvi fazer uma viagem com um planejamento mais detalhado e, depois de todos os preparativos, parti para a empreitada.
No item saúde, resolvi tomar o máximo de cuidado com a alimentação (nem para mais e nem para menos), ingestão de líquidos (água, isotônico), mudanças de temperatura (em áreas desérticas é comum), esforço físico em grandes altitudes onde o ar torna-se rarefeito (levei um pequeno cilindro de oxigênio) e procurando dormir bem. No item segurança defini não viajar à noite, dormir em cidades menores, fazer o câmbio de moedas sempre em lugares credenciados, não andar com muito dinheiro na carteira, manter o passaporte e cartões de crédito em lugar bem seguro, ter cópia de todos os documentos guardados em local diferente, não dar carona e quando for dormir dentro do carro procurar um lugar fechado e seguro. No Paraguai, com o objetivo de dormir em Assunção, resolvi viajar um pouco à noite e foi justamente onde o carro resolveu dar problema, quebrando os parafusos do alternador. Tive que dormir ali mesmo e como era sexta-feira, foi uma batalha para o carro ficar pronto no sábado até meio-dia. Não viajei mais à noite.
O veículo também mereceu um cuidado especial. Além de meio de transporte, foi minha casa e meu fiel companheiro.
Toda manhã conferi óleo, água, pneus, correias, filtros, bagageiro e sempre tomando o cuidado com o combustível, seja mantendo o galão sempre cheio ou abastecendo sempre que possível. Fiz uma programação detalhada de toda viagem dia por dia e procurei segui-la, alterando-a o mínimo possível. Esta programação tinha o máximo de informações sobre o trajeto, condições das vias, infraestrutura, leis e normas de cada local, clima, câmbio aproximado etc. E claro, não podem faltar as atrações de cada lugar, o que afinal é o objetivo da viagem.
Tinha informações que, tanto no Paraguai como na Argentina, as exigências da Polícia Rodoviária sobre o veículo eram pesadas. Por isso, procurei me enquadrar em todos os quesitos. Não adiantou e tive muitos problemas durante a viagem. O receio de quebra do veículo e os problemas com a polícia me acompanharam boa parte da viagem e incomodaram mais do que poderia imaginar.
Mais ao norte da Argentina e em direção ao Chile é que realmente os objetivos da viagem começaram a aparecer, com paisagens extremamente diferentes e exóticas, povos descendentes dos índios que habitam o local há anos. Região de rara beleza, com seus cactos gigantes, cerros multicoloridos, povos e povoados extremamente simples mas acolhedores, nos fazem relaxar quase que sem perceber.
Foi uma experiência diferente e muito marcante, principalmente quanto à questão de viajar sozinho, que me fez refletir sobre o que sou capaz ou não de fazer, de prever possíveis situações e como solucioná-las. Nas outras viagens sempre gostei da chegada em casa, mas desta vez teve um gosto especial. Viajar sozinho de carro é bem diferente. São muitas tarefas para apenas uma pessoa, o que traz cansaço físico e mental. Não é uma tarefa impossível, caso contrário não haveriam os “Amyr Klink” da vida, mas, antes de meter-nos numa empreitada desta, é bom fazer um levantamento minucioso de todo o roteiro e uma reflexão se este tipo de aventura combina com o nosso perfil. Se ainda assim você achar que é capaz de encarar a empreitada, mesmo com algumas opiniões contrárias, mãos à obra que o tempo está passando e você pode se arrepender depois, se não for.
Diário de Bordo
Foz / Ciudad Del Este: O início da viajem, até Foz / Ciudad del Este, foi direta e durou um dia e meio. O objetivo no Paraguai era fazer compras, mas devido à confusão da cidade resolvi seguir para Assunção. Quando já estava perto (à noite), acendeu a luz do alternador. Tive que dormir ali para consertar o carro no outro dia (sábado).
Na Aduana Brasileira é bom declarar os equipamentos eletrônicos. O procedimento não é obrigatório, mas é bom fazer declaração de saída temporária dos bens do Brasil para evitar problemas na volta.
Assunção: Na saída do Paraguai e entrada na Argentina, a “Gendarmeria” (Polícia Argentina) confere todos os documentos, além de fazer uma revista minuciosa no veículo.
Corrientes: Cidade que tem grande tradição como porto e cidade turística, banhada pelo Rio Paraná, onde tem uma magnífica ponte.
Resistencia: Capital da Província do Chaco, na Argentina. A Cidade natal de Che Guevara tem porte médio e é muito bonita. Tive dificuldade para trocar dólares (por peso), só conseguindo, para minha surpresa, na estação de pedágio. Ainda consegui abastecer o carro com cartão.
Com destino a Salta, são 920 km de trechos retos. Região com poucos moradores e muito pobre de vegetação, parecida com nosso cerrado. A rodovia tem trechos de excelente qualidade e outros que nem estrada tem. Próximo à cidade de Joaquin V. Gonzalez avista-se as primeiras montanhas, indicando transição da enorme planície do Chaco para começo da área montanhosa da Cordilheira dos Andes. Dormi no carro na cidade de Monte Quemado e na cidade de Joaquin V. Gonzalez, onde tive que soldar a descarga. Na volta, por coincidência, tive que soldar de novo a descarga na mesma região (Monte Quemado), em outra “mega oficina”. Neste trecho é impossível abastecer com cartão de crédito.
Salta: A capital da província de Salta fica ao pé dos Andes, no Valle do Lerma. Foi fundada em 1582 e com sua população de 500 mil habitantes, preserva aspecto colonial, com antigos prédios, igrejas e importantes monumentos. Abasteci com cartão e segui até Jujui. Com as informações e mapas, resolvi seguir até Purmamarca. Abasteci em Volcan pagando com dinheiro.
Jujuy: Cidade rica em história, fundada em 1593, localizada entre os rios Grande e Xibi-Xibi. Possui sua feira de “artesanias” e um passeio interessante são as “Lagunas de Yala” nas montanhas, a 20 minutos da cidade.
Purmamarca: Pequeno povoado de aproximadamente 400 habitantes onde está localizado o “Cierro de las Siete Colores”, montanha com sete cores. A fisionomia da cidade se mantém intacta desde o séc. XIX, com forte influência indígena.
Susques: Pequena Vila colonial de origem indígena, com características mais bolivianas que Argentinas ou chilenas, situada a mais de 4000 metros de altitude e com pouquíssimos habitantes e recursos. Em Pastos Chicos, a 3 km, tem hotel, restaurante e posto de gasolina, o último abastecimento até San Pedro de Atacama (400 km). A questão do combustível aqui tem que ser levada a sério. Se você esquecer de abastecer ou não tiver combustível no posto, vai ter que tirar umas férias forçadas.
Salinas Grandes: Dizem que é do tamanho de Buenos Aires. Nos 360º vemos apenas o branco brilhante do sal, que ofusca a vista. São 12 mil hectares de sal que chega a ter 80 centímetros de espessura. As construções de um escritório, lanchonete e lojinha a beira da estrada na Salina são todas feitas de sal.
Paso Jama: A subida para o Paso Jama é muito íngreme e são quase 28 km. É interessante sair cedo para evitar o sol forte, já que o motor esquenta, não só pela subida, mas também por causa da altitude (ponto de ebulição abaixa). No Paso há um pequeno ambulatório com oxigênio, no caso de sentir náuseas e tonturas devido à altitude. É um paso que vem recebendo atenção especial dos governos da Argentina e do Chile e por isso é o mais recomendado do noroeste Argentino. Tem melhores condições que o paso Sico, em Salta, e não fecha durante as chuvas ou neve, além de menos solitário, porque é a via mais direta de comunicação entre o Brasil / Paraguai e o Oceano Pacífico.
San Pedro Atacama: Lembra cidades mexicanas de filmes Pancho Villa. Casas sem teto, muita poeira, ruas estreitas e sem calçamento. Deserto, montanhas coloridas e geladas, céu sempre super estrelado. A 2.450 metros e com 3.000 habitantes, é um oásis no Deserto do Atacama, o mais árido do mundo. Com céu azul ano inteiro, chuvas raras e uma imensidão de constelações à noite, tudo colabora para uma viagem inesquecível. Temperaturas contrastantes, com calor 28°C de dia e frio de 12°C à noite, tornam o lugar ainda mais interessante.
Valle La Luna: Fazer uma caminhada nas dunas para ver o pôr-do-sol nos lembra um filme no Saara, com o vento levantando a areia. Não é uma caminhada muito leve e isto torna a experiência ainda mais interessante. Local muito bonito, cartão postal do Atacama. O Vale é enorme e tem lugares incríveis para se explorar de jipe, observando as normas de preservação.
Vale de la Muerte: Não muito longe da cidade, mas um pouco difícil de achar porque não tem placas e nenhuma estrutura. É realmente bem “deserto” e com uma paisagem quase “lunática”, dando asas à imaginação ao se aventurar com o jipe pelos seus caminhos. Foi muito bom andar sozinho por aqueles lugares. Creio que somente estando só é possível absorver toda a energia do local.
Salar de Atacama: Salinas agrupadas num altiplano formando pedras com lagoas onde vivem flamingos cor-de-rosa (Reserva Nacional los Flamencos). O Deserto do Atacama tem 90 km de extensão por 30 de largura e forma uma gigantesca reserva de sal e lítio a 38 km de San Pedro Atacama. Quando entramos no Soncor (Parque), com sua estradinha feita com pedras de sal, o único lugar aberto à visitação é a Laguna Chaxa.
Bolívia – Potosi: Saindo do Chile e depois dos 28 km de subida, entrei na Bolívia pelo Paso Portesuelo Del Cajon. As estradas são ruins, com muito cascalho solto e costelas de vaca. Apesar das varias opções de caminhos (as pessoas vão abrindo novos, como aqui em nossas trilhas), estava cada um pior que o outro e quase fiquei agarrado por duas vezes.
Peguei o asfalto de novo em direção à Argentina e dá-lhe estrada com destino ao Brasil. O carro estava se comportando bem, o que era um motivo a menos para preocupação. Entrei na Argentina, desci a Cordilheira, atravessei a Província de Salta e entrei nas planícies do Chaco, onde na vinda tive alguns problemas com a polícia. Segui em frente e 900 km depois estava em Resistência-Corrientes. Segui para Mercedes e depois Paso de Los Libres, já na divisa com o Brasil. Quando atravessei a ponte para Uruguaiana, me senti como se estivesse chegando em casa e, apesar do horário (18h), resolvi seguir até São Borja. Depois Erechim, União da Vitória, Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte.
O que é preciso levar
Documentos Pessoais:
CIV – Certificado Internacional de Vacina contra febre-amarela (Bolívia)
Passaporte (Bolívia)
Carteira de Identidade – civil SSP ou SSI (Paraguai / Argentina / Chile)
Carteira de Habilitação Brasileira
Documentos do Veículo:
Certificado de registro original
Seguro total válido no Mercosul e Seguro Carta Verde
Manter os documentos juntos para facilitar nas paradas policiais e fronteiras. Leve-os aonde for, inclusive para fazer check-in em hóteis. Tenha cópias de todos os documentos e mantenha em um outro local seguro.
Itens obrigatórios:
2 triângulos
2 espelhos laterais
Kit primeiros socorros
Cambão/cinta/cabo de aço 3m com gancho para reboque
2 extintores
Não é permitido engate traseiro e faróis na altura dos olhos.
Dicas
- Melhor época: de Junho a Setembro (fora do inverno, melhor para a subida da cordilheira).
- Leve peças sobressalentes para carro, reserva de combustível e água.
- Diferentes mapas do mesmo país (comprar lá em redes de posto de gasolina) são úteis.
- Tenha sempre alimento não perecível e líquidos dentro do carro.
- Nunca deixe o tanque de gasolina abaixo do meio.
– Saúde
- Ingestão constante de líquidos (isotônicos, que além de hidratar tem sais minerais).
- Refeições leves.
- Mal de altitude (levar cilindro de oxigênio pode ser uma boa precaução).
- Dosar o esforço físico.
- Chapéu com aba e protetor solar.
- Calçado confortável para caminhadas.
- Blusão com capuz corta vento, gorro, luvas e capa de chuva.
- Remédios.
– Dinheiro
- Em alguns lugares é difícil fazer o câmbio. Informe-se antes. Em muitos locais não aceitam cartão de crédito.
– Logística
- Calcular a distância percorrida por dia, prevendo os pernoites para se organizar em relação ao tempo total da viagem é fundamental para seu sucesso. Sabendo onde não há cidade/posto, você se prepara com antecedência comprando alimentação, água e abastecendo o carro. Não deixe para fazer isto quando estiver no deserto.
- Evitar dirigir a noite é o ideal. Você fica mais seguro, aprecia a paisagem, dirige descansado e qualquer problema é resolvido mais facilmente de dia. – Em caso de trechos de deslocamento, evite passar por cidades grandes. O transito é mais confuso e pernoite em cidade pequena é mais barato.
– Combustível
- Pelo menos um galão de 25 litros. Existem trechos sem postos, fechados ou sem combustível e normalmente em regiões bem afastadas de tudo.
- É melhor abastecer em cidades grandes.
- De Resistencia até Salta e de Jujuy até San Pedro de Atacama deve-se ter bastante atenção, seja por falta de postos ou por pagamento só em dinheiro.
Alguns números
Detalhes
- Mais alta temperatura: Vale de La Muerte – 39°
- Mais baixa temperatura: Paso Jama – 11°
- Maior altitude: Paso Jama – 4.300 metros
- Quilômetros percorridos: 7.991 em 14 dias de viagem
- Média de consumo do Vitara: 9,3 km/l
Kms. Percorridos por País:
- Brasil: 3.721 Km
- Argentina: 3.373 Km
- Chile: 492 Km
- Paraguai: 327 Km
- Bolívia: 78 Km
Preço da gasolina por País: ( Veículo: 9,3 Km/L. )
- Brasil: R$ 2,50
- Argentina: R$ 1,40
- Chile: R$ 2,32
- Paraguai: R$ 1,60
Preço da Hospedagem por País: ( média / dia )
- Brasil: R$ 42,00
- Argentina: R$ 31,00
- Chile: R$ 41,00
- Paraguai R$ 20,00
Preço da Alimentação por País: ( média / dia )
- Brasil: R$ 23,00
- Argentina: R$ 19,00
- Chile: R$ 36,00
- Paraguai R$ 17,00
por: Maurício Santos
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