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Extremo Sul – A busca pelo fim do mundo
Rumo a Ushuaia, considerada ‘Fin del Mundo’, mas aproveitando o caminho pela Patagônia e Terra do Fogo
A ideia de viajarmos de carro para outros países, com organização e roteiros próprios, às vezes causa certa apreensão. Porém, ela logo é dissipada quando pensamos em como o projeto foi estudado, desenvolvido e principalmente na boa manutenção dispensada ao veículo, já que ele é um parceiro muito importante. Para o desenvolvimento do projeto, gastamos três meses de muito trabalho, estudos, pesquisas na internet, guias, mapas, consulados e troca de informações com viajantes que já estiveram na região. Não nos preocupamos apenas com questões como estradas, distâncias, cidades e atrativos, mas também com as questões legais, tanto para nós quanto para o veículo, como a obrigatoriedade de dois triângulos e dois extintores de incêndio, seguro especial do veículo, cinta para reboque e cabo de enxerto em bateria.
Como já conhecemos o “Extremo Norte” da terra (Alaska), nosso destino seria Ushuaia, a cidade considerada “Fin del Mundo” no Extremo Sul das Américas. Não sei se podemos chamar de “destino”, porque na realidade o objetivo maior é a Terra do Fogo e toda a Patagônia, tanto a argentina quanto a chilena.
O projeto se concretizou em um Suzuki Vitara 1997, quatro portas, especialmente preparado para a viagem, com proteções de motor, caixa e tanque, guincho elétrico, snorkel, farol de milha, bagageiro, dois estepes, galão extra de combustível, prancha de desatolagem, rádio PX, iluminação interna para leitura de mapas, GPS, cortinas, peças sobressalentes e ferramentas, além de uma revisão minuciosa. A preocupação extra com o jipe se justifica, devido à distância percorrida e ao tipo de estradas que rodaríamos na Patagônia.
No percurso de ida passamos por Porto Alegre, Assunção e Buenos Aires num ritmo de deslocamento, parando apenas na Península Valdez, onde visitamos colônias de pinguins e lobos-marinhos e fizemos um passeio de barco para avistagem de baleias.
As estradas na Península Valdez são todas de rípio (cascalho) e embora em boas condições já davam uma mostra do que teríamos pela frente. Continuando para o sul, saímos da Argentina e atravessamos um trecho de 120 quilômetros no Chile de estrada de rípio muito ruim, com costela-de-vaca, buracos enormes, muita poeira e com tráfego pesado de caminhões, porque é o único acesso ao extremo sul da Argentina por via rodoviária. Resultado: quando chegamos a Ushuaia tivemos que consertar a suspensão e trinca no para-brisa. Ushuaia se tornou uma cidade turística devido às suas paisagens e à proximidade com a Antártida, se tornando ponto de partida para cruzeiros de exploração em navios quebra-gelo. Infelizmente tivemos que retornar pela mesma estrada de rípio em direção ao Chile, para visitar o Parque Nacional Torres del Paine. Valeu a pena, pois o Parque tem paisagens lindíssimas, com animais soltos em toda sua área. Nesta região começaram os problemas com combustível e uso do cartão de crédito. Como as cidades são muito pequenas, não trabalham com cartão e o único posto da região funcionava numa casinha de madeira de 3 x 3 metros com a bomba lá dentro, e a mangueira era passada por um pequeno buraco para abastecer o carro, sendo depois recolhida. Tive que chamar o bombeiro em casa e ele demorou uns dez minutos para andar os quarentas metros até o “posto”. Digno de uma foto.
Voltando para a Argentina, encaramos a lendária “Ruta 40”, que é um mito para os argentinos assim como a Rota 66 é para os americanos. Ela vai do extremo sul ao extremo norte da Argentina e na maior parte ainda é de rípio. Fomos para a cidade de El Calafate para conhecer o Glaciar Perito Moreno, no Parque Nacional Los Glaciares. O glaciar é uma massa de gelo de 60 metros de altura por cinco quilômetros de frente, algo descomunal. Vez por outra se desprendem enormes blocos de gelo que caem na água fazendo enorme estrondo. Depois rodamos 460 quilômetros até a cidade de Perito Moreno, tudo de rípio, em condições às vezes razoáveis e outras nem tanto, e com poucas opções de hospedagem e abastecimento. O galão de combustível extra que levava no bagageiro já era usado constantemente. Às vezes rodávamos mais de uma hora sem cruzar com veículo algum, o que dava um pouco de receio. Tivemos que dormir numa pequena “cidade” chamada Bajo Caracoles, em uma das duas “pousadas” existentes na “metrópole”. Tinha sido construída pelo dono e seu filho e era uma perfeita gambiarra.
De Perito Moreno seguimos em asfalto até a fronteira com o Chile, na cidade de Chile Chico, onde encaramos 140 quilômetros de rípio em uma estrada estreita, com precipícios, sinuosa, com aclives e declives acentuados, mas com uma paisagem de tirar o fôlego. Aquilo era uma preparação para a famosa “Carretera Austral”. Famosa por dois motivos: pela natureza de paisagem exuberante e pela dificuldade do percurso.
Na região os moradores usam apenas camionetes e jipes 4×4 ou caminhão, praticamente inexistindo carros de passeio. Em muitos lugares só passa um carro por vez e o rípio tem pedras enormes, fazendo com que o facão que se forma entre as rodas seja muito alto, raspando no meio do jipe. As costelas-de-vaca são geralmente em aclive, declive ou em curva, o que dificulta mais ainda. Gastamos sete horas para percorrer um trecho de 198 quilômetros, mas o visual compensou. É uma região bem afastada das cidades maiores e que ainda guarda o seu modo de vida original, vivendo da pesca, agropecuária, extração de madeira e agora despertando para o turismo. Continuamos descendo para o sul e chegamos a uma pequena vila de pescadores chamada Caleta Tortel. Situada em uma pequena enseada e com um relevo muito íngreme, praticamente não possui área plana para construção das casas, obrigando os moradores a construí-las sobre palafitas. Também não existem ruas, que foram substituídas por escadas e passarelas de madeira. Os veículos ficam situados num plano bem acima, na chegada da cidade, e tudo que necessita chegar às casas tem que ser carregado pelas escadas e passarelas.
Continuando pela Carretera, sentido norte, chegamos a Coihaique, maior cidade da região, onde pudemos fazer uso do cartão de crédito e colocar as finanças em dia. De Coihaique para o norte encontramos várias obras na Carretera (sempre de rípio) e um maior trânsito de caminhões, o que atrasava mais a viagem. Era comum fechar a estrada para as máquinas realizarem serviços de emergência ou desagarrar algum caminhão.
Devido ao relevo extremamente acidentado, a manutenção e melhoria da estrada torna-se extremamente cara e trabalhosa. Dormimos na pequena cidade de La Junta, onde o quarto do “hotel” não tinha sequer aquecimento interno e mais uma vez o galão de combustível nos salvou. Chegamos a Futalefú, cidade na fronteira com a Argentina e famosa mundialmente pela prática de rafting. Após os trâmites na aduana, “mais 30 quilômetros de rípio e asfalto para sempre” até Belo Horizonte.
Paramos em Bariloche para fazer mais uma revisão no jipe (novamente suspensão, reparo no para-brisa, limpeza e troca de óleo, que é bem mais cara do que no Brasil), antes de encarar o asfalto de volta para casa quase que direto. Passamos pela Ruta 20 – “Ruta del Deserto”, com relevo muito plano, sem vegetação e com retas de 100 quilômetros, muito monótono e cansativo. Dormimos em Santa Rosa e depois Buenos Aires, onde resolvi me arriscar naquele trânsito louco para procurar uma fábrica de acessórios off-road. O pessoal é gente boa, mas o foco deles é acessórios para camionetes Hilux, Nissan, Ranger e outras, nada de muito radical como gostamos aqui. Atravessamos o Rio da Prata de ferry-boat em direção à Colonia del Sacramento no Uruguai, sem antes tomar uma “dura” da Polícia de Imigração da Argentina devido ao excesso de tralha no jipe, com direito a cão farejador e tudo. No Uruguai, fomos a um povoado no litoral chamado Cabo Polonio, uma pequena vila de ex-caçadores de leão-marinho, ex-pescadores e agora voltada para o turismo, e onde você não pode entrar com o seu carro porque a área é uma reserva. Apenas veículos credenciados, que ficam numa espécie de portaria têm a tal permissão. Aí que vem a melhor parte: a estrada de acesso ao povoado é areia pura, consequentemente os veículos tem que ser 4×4 e com enormes pneus. Tinham a disposição Pick-up Jeep antiga, Dodge Patachoca, caminhão Reo 4×4 e 4×6, Unimog e um incrível caminhão Margirus-Deutz 4×6, com motor original, que não tem radiador de água (é refrigerado a ar) e que foi comprado do exército uruguaio. De quebra ainda vimos um buggy 4×4 de fibra com mecânica adivinhem de quê? Toyota Hilux!
Fomos para Cabo Polônio no Reo 4×4 a uma velocidade de 20 km/h, porque além do caminhão estar carregado, qualquer acelerada mais forte poderia atolá-lo, segundo o “piloto” Marcelo, que nasceu no lugar e há quinze anos dirige os caminhões ali. Foi uma aventura incrível. Depois seguimos para a fronteira com o Brasil em Chuy e, já no Brasil, passamos pela Reserva do Taim, cortada ao meio pela estrada que tem mata-burros e é cercada por telas, para evitar que os animais atravessem a pista. Mesmo assim tivemos que fazer a boa ação do dia e tirar uma tartaruga que estava bem no meio da pista. Seguimos para Rio Grande (RS), onde resolvi subir pela BR-101, beirando a Laguna dos Patos. Segundo os moradores, essa estrada era chamada de “Estrada do Inferno”antes do asfalto, porque era toda de areia e os veículos sempre atolavam. Acho que o nome deveria continuar, porque quase metade dos 300 quilômetros é buraco puro. Conhecemos a cidadezinha de Mostardas que muito já tinha ouvido falar e a sua praia, distante 12 quilômetros por uma estrada de areia muito legal. Depois Joinvile/SC e finalmente Belo Horizonte/MG, depois de 36 dias de viagem e 16.363 quilômetros bem rodados.
Dados da Viagem
Número de dias: 36 dias
Dias de sol: 25 dias
Dias com chuva: 11 dias
Km total: 16.363 km
Máximo Km/dia: 1.200 km
Estrada de rípio (cascalho): 2.265 km
Maior tempo na estrada/dia: 15 horas
Gasolina: 1.793 litros
Consumo médio: 9,13 Km/l
Gasolina mais cara: R$ 2,78 (Chile)
Gasolina mais barata: R$ 1,36 (Argentina, abaixo do Paralelo 42)
Valor Médio no Brasil: Gasolina R$2,52 / Diesel R$2,12
Valor Médio no Uruguai: Gasolina R$2,88 / Diesel R$2,85
Valor Médio na Argentina: Gasolina R$1,61 / Diesel R$1,31
Valor Médio no Chile: Gasolina R$2,60 / Diesel R$2,53
Maior média de velocidade: 102 km/h
Menor média de velocidade: 33 km/h
Problemas com o carro: Suspensão e para-brisa trincado (pedras)
Pneus furados: 0
Pedágios: 19
Travessias em ferry-boat: 5
Paradas policiais / Problemas: 12 / 0
Travessia de Fronteiras / Problemas: 10 / 0
Fotos digitais: 822
Filmagens: 210 minutos
Lugar onde ficamos mais tempo: Ushuaia (3 dias)
Parques Nacionais visitados: 6
Menor altitude: 0 metros (Ushuaia – Canal de Beagle)
Maior altitude: 1.720 metros (Cordilheira dos Andes – Chile)
Menor temperatura: 5 graus (Carretera Austral – Chile)
Maior temperatura: 31 graus (Uruguai)
Pior estrada: Carretera Austral (Chile)
Melhor estrada: Ruta 20 – Argentina
Pior hospedagem: La Junta (Carretera Austral – Chile)
Melhor hospedagem: Punta Arenas (Chile)
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