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Jipão em traje esporte fino

Leve a palavra versatilidade ao extremo e você acaba chegando na Envemo Camper: excelente conforto, excepcional performance off-road e, de quebra, manutenção barata 

A história da indústria automobilística nacional tem casos que merecem destaque por sua inovação. O surgimento da Camper no final da década de 1980 é um deles. 

Apresentado no Salão do Automóvel em 1988, a Envemo Camper disponibilizou um novo conceito de veículo fora-de-estrada ao mercado brasileiro. Até então, não existia opção nacional que reunisse o requinte e luxo com o desempenho off-road. Não é preciso nem um pouco de esforço para perceber que seu design foi totalmente inspirado na Cherokee, mas o fato é que a Envemo – Engenharia de Veículos e Motores Ltda. – acertou em cheio com a fórmula. Tanto que, 20 anos depois, a Camper reúne uma legião de fãs no Brasil. Outro termômetro do sucesso é a grande valorização que o carro tem quando algum proprietário se vê obrigado a vender seu bólido. 

A receita utilizada é simples. Pegaram o já consagrado conjunto mecânico do jipe Engesa Fase III – o modelo Jordânia, mais longo – e colocaram em cima uma carroceria em fibra. Para temperar, uma boa dose de luxo com ar-condicionado, bancos em couro, vidros elétricos e direção hidráulica. 

Um dos grandes trunfos da Envemo foi utilizar a configuração mecânica do Engesa Jordânia com chassi em perfil retangular e travessas tubulares. A suspensão, com molas helicoidais de grande curso (260 mm) utilizando uma barra transversal e quatro longitudinais, deu ao veículo um conforto bem maior que a configuração de feixe de molas usada até então nos 4×4. Por outro lado, quando submetido a torções, o desempenho do sistema herdado do Engesa é de se impressionar. A única diferença ficou nos ângulos de ataque e saída, um pouco menores na Camper em virtude do desenho da carroceria. 

Sob o capô, a Envemo ofereceu inicialmente apenas a versão com motor quatro cilindros do Opala. Com apenas 82 CV, o propulsor se mostrou fraco para empurrar os mais de 1.500 kg e, um ano depois, a nova versão com motor seis cilindros resolveu o problema.  

Em 1992 as novas opções com motores diesel Maxion S4 e ST4 passaram a integrar a linha Camper. O modelo equipado com o motor ST4, o mesmo que equipava as picapes D20, transformou-se no sonho de consumo dos apaixonados por Camper. Ele reunia a dose certa de torque, economia de combustível e elevava ao máximo a grande versatilidade da Camper. Andando bem, o grande problema era parar. O sistema de freios sempre foi o calcanhar de Aquiles da Camper. Hoje em dia, é raro ver um modelo com o sistema original. 

Como no Engesa, a Camper não possuía redução. A opção apresentada pela fábrica foi a utilização de um câmbio Clark com a primeira marcha com relação bem reduzida (6,89:1). Apesar da primeira marcha dar conta do recado, o uso da redução – que atualmente é uma das principais adaptações feitas em Engesa e Camper – poderia dar melhores opções de uso da caixa de marchas. 

Visivelmente inspirada na Cherokee, a carroceria da Camper era construída em uma peça única de fibra de vidro. Além do estilo e visual moderno, a Camper tem excelente espaço interno e vários itens de conforto que eram inovações na época. Bancos em couro, vidros elétricos e ar-condicionado não eram equipamentos normais de se encontrar em um veículo feito para uso fora-de-estrada. O resultado foi a criação de um dos carros mais versáteis que se tem notícia. Em uso urbano, a Camper se comporta como um carro normal. Apesar do tamanho, anda com desenvoltura e desperta olhares. Em estradas, se sente em casa. Tanto no asfalto como nas estradas de terra, onde, aí sim, está em seu habitat. Até aí, tudo normal. A diferença começa a aparecer quando submetemos a Camper a obstáculos mais complicados em trilhas. Seu comportamento se assemelha ao Engesa – que como sabemos, é quase um ‘tratorzinho’. Para completar a razão para a idolatria pela Camper, está o fato de que você pode fazer tudo isso com a garantia de que não vai gastar rios de dinheiro com manutenção. Como dizem, a Camper oferece conforto de carro de luxo, desempenho de jipão e manutenção de Fusca. Bom, também não precisamos exagerar tanto! 

História 

A história de produção da Camper infelizmente é curta. Foram apenas seis anos de fabricação, quando foram produzidas 650 unidades. O início aconteceu com a aparição no Salão do Automóvel de São Paulo em 1988. Porém, o modelo equipado com motor quatro cilindros e opção de tração 4×2 ou 4×4 só começou a ser oferecido ao público em 1990. Um ano mais tarde, o motor de Opala 4.1 de seis cilindros passou a fazer parte do cardápio que, em 1992, ainda ganhou as versões diesel com motores Maxion S4 e ST4 (turbo). 

Até 1994, apenas a carroceria (em fibra de vidro) de duas portas estava disponível. Na época, a Camper utilizava vários itens de outros veículos como o painel de Opala Diplomata, faróis do Uno e lanternas do Chevette. 

Neste ano, já no final de produção, a carroceria de quatro portas foi apresentada. Ela trazia ainda nova grade dianteira com faróis da picape D20 e painel do Kadett. Porém, apenas 36 unidades deste modelo foram produzidas antes do fim da produção em 1995. 

Ficha Técnica 

Motores  

GM 151, quatro cilindros em linha.
Cilindrada: 2474 cm3
Potência: 87,6 cv a 4.200 rpm (gas.) / 97,0 cv a 4.400 rpm (álcool)
Torque: 17,5 kgfm a 2.500 rpm (gas.) / 18,1 kgfm a 2.500 rpm (álcool) 

GM 4.1, de seis cilindros em linha, 2 válvulas por cilindro no cabeçote, carburador de corpo duplo com segundo estágio à vácuo.
Cilindrada: 4093 cm3
Potência: 121 cv a 3.800 rpm (gas.) / 141 cv a 3.800 rpm (álcool)
Torque: 28,7 kgfm a 2000 rpm (gas.)/ 30,9 kgfm a 2000 rpm (álcool) 

Maxion S4 de quatro cilindros em linha.
Cilindrada: 4100 cm3
Potência: 92 cv a 2.800 rpm
Torque: 28,0 Kgfm a 1.400 rmp 

Maxion S4T de quatro cilindros em linha, turbo.
Cilindrada: 4100 cm3
Potência: 120 cv a 2.800 rpm
Torque: 38,2 Kgfm a 1.600 rpm 

Transmissão
Câmbio Eaton Clark.
Manual de cinco velocidades mais ré.
Tração 4×2 traseira com 4×4 acionável por alavanca no assoalho. 

Freios
Dianteiro: a disco
Traseiro: tambor 

Direção
Hidráulica 

Suspensão
Dianteira: Eixo rígido, barras oscilantes longitudinais e transversais, molas helicoidais e amortecedores telescópicos de dupla ação. Curso de 260 mm.
Traseira: Eixo rígido, barras oscilantes longitudinais e transversais, molas helicoidais e amortecedores telescópicos de dupla ação. Curso de 260 mm. 

Dimensões e Capacidades
Comprimento: 4150 mm
Entre-eixos: 2470 mm
Largura: 1790 mm
Altura: 1730 mm
Bitola traseira e dianteira: 1490 mm
Altura livre do solo: 330 mm
Peso Bruto: 1550 kg
Capacidade do tanque: 86 litros 

Desempenho
Travessia de água: 700 mm
Rampa máxima: 60º
Inclinação lateral: 30º
Ângulo de entrada: 40º
Ângulo de saída: 35º 

por: Adriano Rocha
fotos: Emídio Bastos 

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